7.1.11
Mefisto-Mefez, volume xii
Mefisto tinha por hábito morder-lhe o sono. Dedilhava missivas nas suas costas nuas quando pressentia que o seu discernimento esmorecia, moldando-lhe o torpor como pastilha elástica. Depois, nas manhãs de ronha, se lhe assomava uma breve memória aos lábios, ela perguntava-lhe que palavras se cosiam às outras entendera: nós, corda, pele, poço. Ele jamais a esclarecia, acusando-a severamente de negligência. Mas o lugar do réu não a confundira e, numa noite de beijos e de calma malícia, a menina antecipou-se e pediu-lhe com doçura que lhe gravasse uma frase habitual, uma que pudesse um dia, pensou para si, arremessar como prova. Depressa despiu a camisola, entregando-lhe a nudez ao grafite dos dedos – e leu: deixei-te um pássaro na mão. Desconcertada, não sorriu. Fechou-se num nó fetal e esperou que ele viesse completá-la. Horas passadas, ainda a manhã se espreguiçava e já o sol invadia todos os recantos do quarto, vencendo o vidro baço da humidade, e ela, despertando como se não tivesse chegado a adormecer, ergueu-se nos cotovelos e sussurrou-lhe ao ouvido: olha, amor, o teu pássaro. Parti-lhe o pescoço.