31.7.10
Gotta love my neighbours
via fb Sofia de Eça
Estava eu a estender a roupa na varanda, quando passa um homem nos seus cinquentas, ao telefone:
– Tu não gostas dessas coisas, não me chupas. Sou um homem tão infeliz, tão infeliz, ninguém me chupa.
30.7.10
The stillness is the move
29.7.10
Go ahead and touch
Não é um blog. É um acervo pessoal que, por acaso, é visitável. Porque gosto de ter imediatamente disponíveis os exemplares que consubstanciam os meus superiores argumentos.
Escolhidas a Dedo, um coiso sobre mamografias.
Escolhidas a Dedo, um coiso sobre mamografias.
28.7.10
Caça à felicidade
Todos os anos sucumbo a vários vícios – fatalidade de quem se assume obsessiva e pouco interessada em oferecer-lhes resistência. Entre os muitos vícios de 2009, houve um que, numa especial proclamação de espectacularidade, resistiu, desde finais de 2009 a meados de 2010, ao massacre das audições diárias – meu Deus, que há drogas mais duras que outras. Diz que se chama Pursuit Of Happiness, é de Kid Cudi, e conta com a gloriosa participação dos MGMT e dos Ratatat, resultando numa obra cujo sucesso se deve, até aposto, à miragem do título. Na minha habitual incompetência para textos sobre música (que se emaranham na minha cabeça ad eternum sem nunca verem a luz do post), a dita maravilha ficou por publicar. Curiosamente, chega hoje a pretexto de uma cover. Não se surpreendam se musicalmente vos soar ao mesmo, pois é na interpretação que se afirma a diferença. O tom grave e cool do original transforma-se num agudo grito feminino («elas gritam melhor», dizia ele, julgava eu) e substitui a confiança na redenção pela esperança desesperada. Não me censurem por acabar a pessoalizar a questão – é que não há outra forma de cantar «I’ll be fine, I’ll be good», senão como quem quer desesperadamente acreditar em si própria.
[reparem no pormenor da t-shirt]
Eu, eu!
27.7.10
Red Hot Chili Dreams
And you won't see me surrender
You won't hear me confess
'Cuz you've left me with nothing
But I've worked with less
Ani DiFranco - Dilate
26.7.10
As tartarugas* são tão burras, graças a Deus
E gemem como só as burras sabem.
*cágados, tartarugas, whatever, who cares?
I blhec big butts and I cannot lie
© Lucas Dillon
Na viagem de regresso ao Porto, foram quinze minutos de agonia, aqueles em que o rabo de uma senhora que se encontrava de pé decidiu invadir o espaço do meu lugar sentado. Irritada com o falhanço das cotoveladas, estive mesmo mesmo mesmo mesmo para lhe espetar uma caneta no rabo. Teve sorte.
25.7.10
24.7.10
Small deaths
23.7.10
A propósito, divagando
Não acredito na inevitabilidade de nos tornarmos desconhecidos após uma relação, não sempre. Essa é uma crença para fracos de espírito.
20.7.10
Ghostwriting
Queria ter-te contado, mas claro, já cá não estás, ou sou eu que não estou, não sei bem, somos agora de novo desconhecidos, imagina, desconhecidos, morremos civilmente, desaparecemos, é difícil às vezes não ter nojo da vida.
Pedro Mexia [who else?]
Redacção escolar: o Verão é
19.7.10
18.7.10
16.7.10
Waka, Limonada, Waka!
Não que o meu nome seja um decalque da adoração por um fruto ou pelo seu refresco, até porque a minha fruta preferida é a ameixa - e viva o Verão -, mas a mim parece-me indesmentível que a melhor limonada de Lisboa (e do Mundo) é a Limonada Suíça do Noobai. (Não posso escrever estas coisas, babei-me toda.) Mas fazemos assim: da próxima vez que eu for a Lisboa, em vez de cumprirmos a estranha e transversal tradição do Noobai, vamos beber a dita maravilha à Rua Nova do Almada. Até porque consta que é numa «tasca apertada».
Ursula Rucker
Afinal, cá está ela: a entrevista a Ursula Rucker no programa Bairro Alto.
«Hollywood ainda não nos deixa entrar e contar as nossas histórias... (...) Falei com muitos cineastas negros sobre essa dificuldade, a enorme luta que decorre... Não sei se viu um documentário feito por Mel Van Peebles, um documentário espantoso sobre a nossa exclusão do Cinema. (...) Os filmes que eles nos permitem são uma mutação das nossas histórias. O nosso amor e a nossa sexualidade nunca é tratada como deve ser, se quer saber, tanto em filme como na música.»
«A expressão "rede social" para mim significa o mesmo que "reality show". São lugares no ciberespaço que eram para ser de socialização, de comunicação. E poderemos nunca conhecer pessoalmente as pessoas. Ou quando nos sentamos diante delas num banco dum parque, ou num café, não temos tanto para conversar com elas como diante daquelas maquinazinhas. Há uma liberdade quando temos aquela coisa diante de nós, uma cortina que faz todos sentirem... (...) Espanta-me o que as pessoas dizem no Facebook, a quantidade de informações que dão sobre si mesmas. (...) Por vezes sinto-me suja quando lá estou. Sinto que preciso de me lavar. A sério, pergunto-me se aquilo estará certo. Parece que estou a drogar-me ou assim.»
(Obrigada.)
«Hollywood ainda não nos deixa entrar e contar as nossas histórias... (...) Falei com muitos cineastas negros sobre essa dificuldade, a enorme luta que decorre... Não sei se viu um documentário feito por Mel Van Peebles, um documentário espantoso sobre a nossa exclusão do Cinema. (...) Os filmes que eles nos permitem são uma mutação das nossas histórias. O nosso amor e a nossa sexualidade nunca é tratada como deve ser, se quer saber, tanto em filme como na música.»
«A expressão "rede social" para mim significa o mesmo que "reality show". São lugares no ciberespaço que eram para ser de socialização, de comunicação. E poderemos nunca conhecer pessoalmente as pessoas. Ou quando nos sentamos diante delas num banco dum parque, ou num café, não temos tanto para conversar com elas como diante daquelas maquinazinhas. Há uma liberdade quando temos aquela coisa diante de nós, uma cortina que faz todos sentirem... (...) Espanta-me o que as pessoas dizem no Facebook, a quantidade de informações que dão sobre si mesmas. (...) Por vezes sinto-me suja quando lá estou. Sinto que preciso de me lavar. A sério, pergunto-me se aquilo estará certo. Parece que estou a drogar-me ou assim.»
Bingo.
15.7.10
As minhas mulheres #2
Para quem não tem hábitos televisivos, passar temporadas em casas com quatro canais equivale a redescobrir a televisão portuguesa.
Entre um 5 Para A Meia-Noite com um Pedro Paixão inqualificável nas suas afirmações (uma delas comummente atribuída a Godard: «All you need for a movie is a girl and a gun.», que ele inacreditavelmente fez passar por sua – e o povo aplaudindo, ignorante), na sua pose e no seu discurso sobre o amor (nunca leria um livro seu por desinteresse, mas agora nunca lerei um livro seu por descrédito), entre novelas com grandes calinadas discursivas («estou tão contente que o nosso casamento vai ter outra oportunidade.») e pretensas séries humorísticas, fui brindada, no até então desconhecido programa Bairro Alto, por uma entrevista de luxo à Ursula Rucker, mulher do fim da minha adolescência e vítima do meu imperdoável esquecimento. Poeta, vai cantando a sua obra ao ritmo dos músicos que a acompanham, mas rejeita o epíteto de «spoken word» e ainda o de cantora.
Entre um 5 Para A Meia-Noite com um Pedro Paixão inqualificável nas suas afirmações (uma delas comummente atribuída a Godard: «All you need for a movie is a girl and a gun.», que ele inacreditavelmente fez passar por sua – e o povo aplaudindo, ignorante), na sua pose e no seu discurso sobre o amor (nunca leria um livro seu por desinteresse, mas agora nunca lerei um livro seu por descrédito), entre novelas com grandes calinadas discursivas («estou tão contente que o nosso casamento vai ter outra oportunidade.») e pretensas séries humorísticas, fui brindada, no até então desconhecido programa Bairro Alto, por uma entrevista de luxo à Ursula Rucker, mulher do fim da minha adolescência e vítima do meu imperdoável esquecimento. Poeta, vai cantando a sua obra ao ritmo dos músicos que a acompanham, mas rejeita o epíteto de «spoken word» e ainda o de cantora.
Ursula Rucker é o Spike Lee da poesia e da música. Não é apenas uma voz negra e uma voz pelos negros – sempre se demonstrou pluralista nos temas – mas aquilo que diz é um sopro contra muros. É uma mulher sábia, com um talento invejável para a resposta inteligente. Estivesse a entrevista disponível online como devia e eu, ó, oferecia-ta inteirinha. Não estando, dou-te poemas (cumprindo o verso daquele outro preto lindo: «you promised me poems»). A «Supa Sista» sempre foi a minha música preferida e eu tive a sorte de vê-la ao vivo, no tempo em que ainda existia o Hard Club no cais de Gaia.
14.7.10
A melody of certain damaged lemons
(...) O que seria eu hoje sem desgostos amorosos? Advogado?
E eu? O que seria eu sem desgostos amorosos? Para começar, nunca seria blogger.
An awful lot of people
13.7.10
Paranoids
O dia não pode correr bem quando somos acordados por polícias a bater-nos à porta.
Mas o pior é quando o único pensamento que nos ocorre é «porra, o que é que eu fiz?!» e ainda panicamos dois minutos enquanto nos vestimos para recebê-los. Já dizia Susan Sontag: I envy paranoids; they actually feel people are paying attention to them.
Desenho cego #3
12.7.10
Receitas de faca e alguidar
Bom dia
11.7.10
I never thought it would be like this
E num momento de inesperada poesia, o amor de uns abre espaço ao amor de todos: há braços e amassos e corpos enlaçados a três e quatro; corpos em pó fundindo-se com o deserto – e, no entanto, (oh) obviamente negando-o; mãos de rasto incerto; e o corpo dela que desce rastejando pelo dele como se não pudessem separar-se, até que a sua boca encontra o que procura e – surpresa – ele devolve-lhe o gesto; e estes corpos vão dançando, ternos mesmo quando animais, numa coreografia tão subtil que vai parecendo espontânea e que empresta ao cinema uma das mais belas e mágicas cenas da sua história.
Por isso, não admira que tenha terminado assim:
– I never thought it would be like this.
– what?
– the desert.
– I never thought it would be like this.
– what?
– the desert.
[Michelangelo Antonioni, Zabriskie Point, 1970]
[abençoada RTP2]