15.7.10

As minhas mulheres #2

Para quem não tem hábitos televisivos, passar temporadas em casas com quatro canais equivale a redescobrir a televisão portuguesa.

Entre um 5 Para A Meia-Noite com um Pedro Paixão inqualificável nas suas afirmações (uma delas comummente atribuída a Godard: «All you need for a movie is a girl and a gun.», que ele inacreditavelmente fez passar por sua – e o povo aplaudindo, ignorante), na sua pose e no seu discurso sobre o amor (nunca leria um livro seu por desinteresse, mas agora nunca lerei um livro seu por descrédito), entre novelas com grandes calinadas discursivas («estou tão contente que o nosso casamento vai ter outra oportunidade.») e pretensas séries humorísticas, fui brindada, no até então desconhecido programa Bairro Alto, por uma entrevista de luxo à Ursula Rucker, mulher do fim da minha adolescência e vítima do meu imperdoável esquecimento. Poeta, vai cantando a sua obra ao ritmo dos músicos que a acompanham, mas rejeita o epíteto de «spoken word» e ainda o de cantora.

Ursula Rucker é o Spike Lee da poesia e da música. Não é apenas uma voz negra e uma voz pelos negros – sempre se demonstrou pluralista nos temas – mas aquilo que diz é um sopro contra muros. É uma mulher sábia, com um talento invejável para a resposta inteligente. Estivesse a entrevista disponível online como devia e eu, ó, oferecia-ta inteirinha. Não estando, dou-te poemas (cumprindo o verso daquele outro preto lindo: «you promised me poems»). A «Supa Sista» sempre foi a minha música preferida e eu tive a sorte de vê-la ao vivo, no tempo em que ainda existia o Hard Club no cais de Gaia.