29.10.10
Entrevista
© margaret durow
Licenciada não-amestrada, com jugular à mercê de chupão, faz contas matemáticas em circuito electrónico isolado. C’est moi; ça va? Preencho requisitos pouco aflitos e junto-lhes certificado de má formação no dobrar da língua: tudo o que sai vai torcido. De emaranhado cabelo, olho de chumbo e mão à palmatória, estaciono as pestanas no desejo dos teus lábios. Punhos cerrados. Eu sei, tu viste-me torcer os pés e desejar que a menina de porcelana se espatifasse no cimento. Ou que me abraçasse sem perguntar pelo nível de entorpecimento. Tem sido assim: raiva amarga em armadura só a mim me fura. Depois, medo. Medo do chilrear dos pássaros a desoras de acordar. Como descobrir um tesouro debaixo de água enquanto te afogas. O tempo é de contenção, pensamentos em aperto, ensaiados à exaustão, apresentados em espectáculo mediante aceno de mão. A saudade emudeceu-me. Descobri que o cheiro do teu casaco desmaiou na madeira do armário. Que agora é apenas um trapo a lembrar um corpo, como o vestígio de um acidente mortal. O odor é o último a morrer – depois perdeste tudo. Aprende comigo: o segredo é a alma do imbróglio. Ambições?, perguntou-me. O meu reino de despojos por um batimento cardíaco.