Ninguém disse que seria fácil. Já diziam os Coldplay.
(Lá está, ninguém disse que seria fácil.)
30.9.10
Desenho cego #4
28.9.10
Now it’s dark
Passaste os meses de uma gestação convencida de que rotularas e arquivaras os teus fantasmas; de que substituíras problemas por projecções, adormecendo os antigos com ansiolíticos, adiando os novos com contraceptivos. Certa de que os transformaras em neblinas que pairariam, indolentes e anestésicas, até se dissiparem nos regulares exercícios da respiração. E depois isto. O subconsciente a trocar-te as voltas da corda ao pescoço, dispondo numa bandeja a tua cabeça embalsamada, para que visses todos os teus medos mais antigos conservados intactos – filme de 2010, género: drama, edição de autor. Memória em desinfestação apanha vírus e inflama – parangona de jornal diário em caixa alta. E eu a acusar-te: se não estivesses incontactável, talvez me pudesses ter socorrido, talvez eu não tivesse sido violada. Uma acusação que eu apontava mentalmente para mim própria, ou não tivesse sido eu a decretar a nossa incomunicação. Mas isso foi depois. Antes eu entrei em tua casa. O pesadelo começou aí. Co-produzido por David Lynch, everything in its awkwardly right place, e a certeza de que tão fina lucidez estaria interdita à consciência. Foi ver baralhar e voltar a dar os mesmos ingredientes, então espelhados em subterfúgios – cenário inverosímil e hiperrealista. Tão obsceno que sou incapaz de descrevê-lo sem sentir que me autoflagelo num filme pornográfico, mas que desejo contar-te por sadismo solidário. Brilhante arquitecta, pensarias, orgulhoso, morto de coração. E a trespassá-lo como música fúnebre, o sentimento de sobra ressequida, um corpo que se passeia entre divisões sabendo-se estranho, excluído, sem lugar. Entrei no teu quarto; dormias. O que fazia ela, minha amiga, nunca tua, numa cama improvisada? Quando o percebi era já outra noite, mas não tarde demais para pronto se fazer pranto. Everything in its awkwardly right place, incluindo eu, a mais. Diante dos meus olhos, a inocência dos princípios e os sonhos malditos, as dúvidas esperançadas e as respirações sincopadas, a delicadeza dos gestos que ignoravam ainda os punhos fechados. Sobre o teu sono profundo o meu fantasma ávido de mundo, prescrito, interdito. Now it’s dark, dizia Frank Booth a Dennis Hopper. A sobrevivência é um mal necessário para quem ainda tem reservas de inocência e café para gastar. Piora para quem não tem talento para ser futuro e menos ainda para te fazer passado.
24.9.10
São verdadeiras
A minha mãe quis oferecer-me um casaco. Ao tentar pagá-lo, inseriu o código errado por duas vezes. À terceira, concentrou-se – era desta. Mas voltou a falhar. Tudo porque o dono da loja, nesse momento, lhe perguntou se «aquelas pestanas da sua filha» eram «verdadeiras». Conclusão: retiveram-lhe o cartão e eu continuo sem casaco (é cor-de-rosa aos corações, um caso não tão grave quanto o daquele meu casaco que assusta as pessoas; ainda hoje um senhor idoso se encostou rapidamente à parede para me deixar passar e os trolhas do meu bairro olharam-me em silêncio [big win]). O meu irmão herdou os olhos verdes da minha mãe e eu as pestanas do meu pai. Não me parece que tenha sido, de todo, mal jogado.
As vacas comem-no
Recebi uma carta da minha seguradora a dar como culpada do acidente a velha que me foi à retangueira. Rejubilo, quase salivo com a antevisão da reacção da senhora, crispando de raiva e indignação, bradando aos céus por justiça (o meu empalamento). Eu não sou cabra, juro. Só quando me pedem muito.
23.9.10
I would prefer not to
© Lukasz Wierzbowski
Pedi que não me apresentassem como «Menina Limão». Apontaram-me o dedo à «síndrome de vedeta». Nada disso. Desde a defesa do meu anonimato à altura da criação deste endereço, até ao ponto em que a progressiva fusão da minha identidade real com a virtual e profissional entornou as possibilidades, o mesmo sentimento: a protecção de uma sensação de liberdade. Uma liberdade facilmente ilusória, admito, mas todos sabemos que a ilusão também salva; trata-se tão somente de uma questão de sobrevivência. Sentir-me-ei tão mais livre quanto este nome não comportar um rosto. Incoerente, eu? Claro que sim. Desde a divulgação dos meus dj sets, à apresentação pública do meu trabalho, uma difícil gestão de contradições. Mas quanto mais esta miúda franzina de olhos tristes puder ser apenas a miúda franzina de olhos tristes, maiores as hipóteses de se alegrar. Sou discreta. E tímida. E complicadinha. Menos corpo, mais alma. É o inverso de um espelho real – o sinónimo de um espelho mágico.
19.9.10
Tumblr
Hoje, numa aula, a prof. falava sobre a profusão de imagens no mundo contemporâneo, que de tão excessiva, paradoxalmente, nos cegava. Concordo perfeitamente; já concordava, aliás, antes de ouvir a prof. dizê-lo. É por isto que não gosto nada de tumblrs. Sigo apenas três tumblrs, sendo que dois não contam e o outro é de alguém conhecido. O tumblr, geralmente, é um regurgitar regurgitante de imagens. Ora as imagens, quando vistas à velocidade da regurgitação, não têm dimensão alguma. Um tipo no tumblr mete dez imagens por dia no seu blogue. dez imagens por dia, mais as imagens todas que tivemos que processar, dá muitas imagens por dia, demasiadas imagens por dia. Daí que esses tumblrs e blogues de imagens, geralmente, me aborreçam. São simplesmente blogues de imagens bonitas, e eu gosto da beleza, na verdade sou um esteta filho da mãe, mas a beleza não me chega, e muita beleza intoxica. E há que educar a capacidade de apreciar a beleza; é preciso um método, e não um sentir tudo de todas as maneiras. Isso só funciona nos poemas do Campos, e funciona porque é uma racionalização, e não o sentir tudo de todas as maneiras propriamente dito, porque se o fosse também não funcionaria. (...)
Texto surripiado ao Agarra, que é Brecht, porque também eu concordo plenamente.
Texto surripiado ao Agarra, que é Brecht, porque também eu concordo plenamente.
17.9.10
Talk to the hand
Donovan Woods – Phone
I ain't saying she's better than you, you see,
She's just better than you for me
16.9.10
Pio a pio, enche a pessoa o saco
Este twitter tem testamento. Se morrer, o seu legado deverá ser deixado aos pombos do Porto, para cagarem nele.
Pelo regresso da exibição regular de cinema à RTP2
15.9.10
Now I've got you in the undertow
What's the matter? You hurt yourself?
Opened your eyes and there was someone else?
14.9.10
Sem malícia, só ternura
12.9.10
Waiting⁴
© Annette Pehrsson
I wish he was my boyfriend
I wish he was my boyfriend
I'd love him to the very end
But instead he's just a friend
I wish he was my boyfriend
There's nothing worse than sitting all alone at home
And waiting waiting waiting waiting by the phone
I hope that he's at home
Waiting by his phone
I wonder if he knows
That I want him
Best Coast - Boyfriend
11.9.10
Potencial monstro
Cá está ela, a bichana. A ideia com maior potencial rotativo no torneio The World harassing Dylan Moran harassing The World. É brilhante. Uma ideia com potencial para ser carinhosamente dedicada ao nosso Zé. É é é.
10.9.10
Resistência, tortura, cedência
– Desculpe, passa na Baixa?
– Boa tarde. (silêncio) Boa tarde.
– Sim?
– Boa tarde.
– Boa tarde, passa na Baixa?
– Passo, sim.
– Boa tarde. (silêncio) Boa tarde.
– Sim?
– Boa tarde.
– Boa tarde, passa na Baixa?
– Passo, sim.
9.9.10
6.9.10
Mudez de mãos
Manos
5.9.10
3.9.10
Nuit Sur Les Champs-Élysées
1.9.10
Eu ando atrás de mim
Eu ando atrás de mim
Por onde passaste tu que me deixaste cá dentro?
Cá dentro, cá dentro, cá dentro
O que é que foi? O que é que tens? O que que se passa?
O que é que te dói?
♥ O'QueStrada - Kekfoi ♥