28.3.10

Through the looking glass

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É tudo menos insignificante que uma eternidade depois tenha recuperado totalmente o meu apetite. Já como dois bifes ao almoço. Li mais livros desde Janeiro do que os que li num ano qualquer a contar desde os ultimamentes. Por estes dias, estropiei uma unha quando tentava, com um desespero convicto, eliminar a sujidade da vida. Exasperada com aqueles resíduos de pó nas concavidades do mundo, que raio, que cavalos são aqueles que fazem sombra nos móveis? Não admitindo uma derrota, ganhei umas unhas negras. Graças a Deus, o Diabo veste Prada e existem vernizes. E corta-unhas. Com que podemos cortar mais qualquer coisa.

Eu costumava olhar pelas janelas em busca de coisa nenhuma – a perfeita medida das minhas aspirações. Tinha vistas compridas para o lodo da ria, que brotava quando a superfície estalava. Agora busco não sei o quê olhando para dentro e, quando encontro o mesmo lodo, passo-lhe um filtro cor-de-rosa. Ainda não percebi qual é o meu problema. É tão grande, parece um gato obeso. Não se mexe, só engorda enquanto te olha displicente. Um psiquiatra somente te pode salvar na condição de te possuir logo ali na mesa do consultório; não sendo o caso, esquece, a salvação detém-na Nossa Senhora da Pila. Todos os conhecimentos técnicos empilhados de nada valem face ao défice de conhecimentos empíricos e estes não vêm especificados na ficha técnica do doutor. Arrogância minha acreditar que os não têm ou desacreditar que os têm, mas não será esta minha dúvida amplamente justificada? Explico-me: é um desperdício ler A Voz Humana sem ter vivido a ferro e fogo. À primeira leitura, a desilusão; à segunda, a intuição de que sairia em carne viva; assim foi, os anjos caíram e eu prostrei-me à indigestão. É esta a importância do conhecimento empírico.

2009 foi o ano da vida em suspenso. O que se passou foi o seguinte: Deus pôs-se a brincar com o Photoshop e passou-lhe um blur. Tudo desfocado e a history ali ao lado, obrigando-me a rever todos os passos. Preferi não o fazer. Esperei como uma desalmada e desalmada fiquei. Lembro-me de Agosto, quando a morte fingiu a fuga e depois veio para ficar. A espera tem desistência escrita na testa. Quem espera sempre alcança, só que não é a bonança, é a puta da loucura.

Há quem a bloguê nenhuma importância dê; não é o caso. Amparo a loja há três anos e em alturas críticas apetece-me descansar. Vou gerindo a desistência com a insistência neste lugar. Esta banquinha de limonada trouxe-me muitos curiosos – alguns ficaram na conversa, outros enganaram-me nos trocos. Trouxe-me pessoas que se especializaram em ser especiais até se tornarem divindades e reuniu-me com outras do meu passado longínquo que, mal me reconhecendo na rua, me reaprenderam aqui. E, por fim, trouxe-me trabalho, que, aliás, continua trazendo, deixando uma menina a modos que toda hot.

Fazendo um desenho: existir é muito difícil, mas desistir ainda é mais. Agora que fique bem claro que nunca vos escrevi de pijama. Não estou certa de que esta afirmação seja verdadeira, assim como não estou certa de que seja falsa e já comia um chocolate. Aos que chegam e se quedam e aos que desde sempre ficaram (e o tantíssimo que isso conta), o meu snif obrigada.

(E agora pára de chorar, p’lamordedeus, que o meu aniversário já passou de prazo – fiz 3 anos a 28 de Janeiro; por falar nisso, deste-me alguma prenda? Então limpa o nariz e vai comprá-la!)