20.5.22

2021, o ano da marmota-no-more

Três coisas transformadoras aconteceram no ano passado. 

Depois de uns quantos vaivéns entre quartos, e partilhas de casa com amigas (weeee) e desconhecidas, somando 8 mudanças (4 delas integrais) em 3 anos 💩🔫, em Julho, mudei-me finalmente para uma casa só minha e do xuxu. Não nego o meu sonho pequeno-burguês: há muito que desejava uma casa assim, bonita, com áreas grandes, três varandas, árvores em volta. Ter-me visto livre de colegas de casa insuportáveis e dos abusos e chico-espertice de subarrendatários foi uma das conquistas da minha sanidade mental. 

II 

Em Outubro, deixava o enésimo trabalho precário na enésima livraria, onde tive o privilégio de coleccionar e testemunhar mais uns abusos indignos. Foi indescritível, nesta altura do campeonato, 17 trampas depois, sair dali pelo meu próprio pé para ir ganhar três vezes mais, num trabalho digno, qualificado, bem frequentado ❤️, bem pago. Sentir-me levitar de alegria, bêbeda de incredulidade durante meses, com o abandono das privações do costume, com o crescente amealhar a substituir a tristeza de ficar a zeros a demasiados dias do fim do mês – e perder o pudor de o dizer. 

III 

Quando comecei a sentir que talvez viesse a haver condições para voltar a ser um bocadinho mais eu; para, quem sabe, recuperar-me às coisas de que fui desistindo, sou convidada para ser programadora no IndieLisboa, onde, no fundo, sempre quis estar. Sobre esta experiência, muito mais haverá a escrever no futuro, mas, para já, o que este ramalhete evidencia é que 2021 não foi o ano da marmota, 2021 foi o ano em que eu – FINALMENTE – quebrei o feitiço do tempo. E já merecia.