12.6.18

Lenny, Lenny

O que me impressiona em Lenny (1974, Bob Fosse) é que objecto e personagem se confundam, que o filme se enforme da mesma matéria do indivíduo que é o seu centro e seja ele mesmo energia, pulsão e vertigem. Que mesmo que consigamos reconhecer as opções, formais e outras, que contribuem para esse resultado (a montagem; um registo de filmagens muitas vezes próximo do documental [como o documental devia ser], dando a impressão de que estamos a ver pessoas reais em vez de personagens, com entrevistas [como as entrevistas deviam ser filmadas, a parecer ficção]; a fotografia contrastada, por vezes estourada dos holofotes; um Dustin Hoffman como nunca o vimos [ele nunca foi tão cool, nem tão desesperado]; e um olhar próximo e ao mesmo tempo nada contemplativo sobre as personagens, etc, etc), o todo é claramente maior do que a soma das partes. Ficamos sem saber exactamente como é que Bob Fosse consegue aquilo. É tremendo.