28.6.16

Três sonhos num eterno retorno

Tenho três sonhos recorrentes há anos. Num, cães, às vezes tigres, mordem-me as mãos ou os braços. Também ele aflitivo mas sem mistério, o segundo acontece sempre que eu tenho a garganta seca. De longe o vencedor na escala da reincidência, o terceiro redunda na impossibilidade de fotografar. A narrativa varia, assim como os intervenientes e os cenários. O único elemento unificador é este: num determinado momento, eu quero tirar uma fotografia e não consigo. Ou porque a luz muda, ou porque a máquina não foca, ou porque o botão subitamente encrava, ou porque o modelo muda de figura, como tantas vezes acontece na realidade. Julgo compreender o seu significado. E é por isso curioso que a minha mente insista no mesmo elemento — o dispositivo fotográfico, o acto de fotografar — para falar de algo que nada tem a ver com fotografia.