28.2.11

Vertigens




Não tenho estômago para pés. Vocês sabem, pés. Aquelas pecinhas estaladiças e frágeis das quais dependemos para caminhar. No Kill Bill, quando a Uma entra na carrinha e se põe a olhar para os pés paralisados tentando que estes se mexam pelo poder das falinhas mansas e tudo o que vemos são duas patinhas completamente estáticas, o meu estômago entra em centrifugação. É quão sensível sou à natureza humana. Não faço peripécias com os meus dedinhos, ninguém estala aqui ossinhos ou sequer dobra o que houver para dobrar; ei, xô, ‘tá quietinho. Agora imaginem-me a ver o Black Swan. Pés e pezinhos e pezadas e dedinhos a mexericar e dedinhos a estalar e joanetes e curvaturas deformadas e unhas a sangrar. Para não falar das cenas igualmente impressionantes com as restantes partes do corpo da Natalie bailarina. Não estou completamente certa de que é coerente dizer que gostei muito de um filme que me deu uma quase contínua sensação de vómito, mas pelo menos sei que é possível gostar de um filme que não pretendemos de todo rever.