2.10.18

Dez dias, dez filmes #2

Quando eu descobri que os filmes podiam ter este nível de coolness. Estávamos em 1999, para aí, e eu nunca mais deixei de adorar a Isabelle Huppert e o Martin Donovan e a Elina Löwensohn (estes dois tão subaproveitados que praticamente só os achamos nos filmes do Hal Hartley).

O meu pai tinha-o em VHS – coisa inédita. Esse carácter de objecto eleito junto às cassetes gravadas, mais as citações elogiosas que o acompanhavam, despertaram-me a atenção. Sei que o vi quando ainda não tinha idade para isso (14? 15 anos?) e que imediatamente se tornou no meu filme preferido. Revi-o mais uma ou duas vezes até aos 18, 19 anos. Hoje, tenho medo de o revisitar e descobrir que já não gosto dele da mesma maneira – pelo que o vou adiando.

Há dois meses conheci a Elina Löwensohn enquanto trabalhava na Linha de Sombra. Absolutamente tudo corria pelo pior nesse dia e continuou a correr depois desse encontro, que por isso se tornou numa espécie de «momento Sheryl Lee», quando esta surgiu a pairar como uma fada no Wild at Heart, espalhando o amor no meio do caos e devolvendo-me num ápice ao meu turbulento destino. Não tinha a certeza de que fosse ela, mas quando ganhei coragem para lho perguntar, o seu rosto abriu-se de imediato. Disse-se realmente surpreendida e contente por ter sido reconhecida – e desatou a falar comigo. Foi de uma generosidade tal, que ainda hoje tudo aquilo me parece incrível. Contei-lhe a história do VHS e que por causa deste filme e dos outros do Hartley, ela tinha sido um dos meus primeiros crushes no cinema. Explicou-me que hoje colabora sobretudo com o Mandico (que, aliás, também ali estava) e porque eu nunca tinha visto nenhum filme dele, ofereceu-se para mos enviar por e-mail. Retribuí passando-lhe um cartaz meu para a mão (e a sua reacção ao mesmo valeu tudo), nas costas do qual escrevi o meu nome e email. Não há fotografias do encontro porque me sinto ridícula a tirar selfies, mas lá lhe cravei um autógrafo nas costas de um marcador de livro. Desde aí, já trocámos dois ou três e-mails e, enfim, escusado será dizer que nunca cessa de me espantar ver o nome Elina Löwensohn a cair na minha inbox. Ele há coisas, Senhora.

Amateur (1994, Hal Hartley) é, portanto, a minha segunda escolha para a fina “rubrica” Dez dias, dez filmes que tiveram impacto.