15.6.16

J de Jacobson

Logo nas primeiras páginas de J, os seus talentos literários saltam à vista, da capacidade de imaginar correlativos eficazes para sugerir sentimentos muito precisos, como Ailinn experimentando “uma sensação eclesiástica furtiva” ao entrar em casa de Kevern, ao dom de condensar um todo complexo na brevidade de uma expressão feliz, como na afirmação de que Kroplik “era mais portão do que porteiro”. Acha que estas qualidades são mais susceptíveis de ser notadas num livro como este do que num romance cómico? 

A questão da comédia é algo em que penso sempre. Quão cómico me vou permitir ser? Sinto hoje uma certa desconfiança, uma desvalorização da comédia. As pessoas acham que me esforço demasiado para ter piada, e eu respondo-lhes que só quem não tem um talento cómico natural é que pensa isso. Não me esforço nada. Mas é tão difícil escrever romances cómicos como outra coisa qualquer. Por outro lado, o mundo em que vivemos é muito circunspecto. Enfrentamos muitos agelastes [alusão ao neologismo de Rabelais para designar os que nunca riem], gente que não percebe as piadas, que não gosta de as ver nos livros, e eu não quero ter a cabeça constantemente ocupada com a distracção dessa luta. E se em J me contive mais, é também porque há no livro um certo pathos que se poderia perder com um excesso de comédia. Quando era um jovem escritor, tornei-me muito bom nessa técnica de tirar o tapete ao leitor quando ele está a ponto de se comover. Sei como se faz. Mas a comédia, às vezes, pode mesmo ser um mau hábito.

Word.