19.5.16

Dez para as dez

Estão dez pessoas neste café. Perscruto-as no sentido dos ponteiros do relógio. À minha esquerda, um rapaz debruça-se sobre o telemóvel. À esquerda deste, um grupo de quatro amigos estrangeiros estão calados, cada um deles envolvido com o seu telemóvel. No canto mais recuado do café, uma rapariga martela os dedos no computador. Junto desta, um homem fala ao telemóvel, adiando o início do jantar que arrefece no prato. À minha frente, na parede oposta àquela em que me encosto, uma mulher consulta o telemóvel. Na mesa ao centro, um rapaz sorri para o telemóvel sobre o computador aberto. Eu sou a décima pessoa deste café. Tenho um livro nas mãos, que vou lendo. Dentro de dez minutos, pegarei no telemóvel para escrever este texto. Dentro de quinze minutos, abrirei o computador. Os quatro amigos turistas já terão largado os seus telemóveis e falarão alegremente durante meia hora. A rapariga na parede oposta à minha já terá trocado o telemóvel por um papel e uma caneta.