31.1.16

Ler

«Tentava ler aleatoriamente, para seu próprio prazer e indulgência, muitos dos livros que esperara anos para poder ler. Mas a sua mente não se deixava levar até onde ele queria. A sua atenção desviava-se das páginas que tinha diante de si e, com frequência cada vez maior, dava por si a olhar fixamente em frente, para o vazio. Era como se, aos poucos, a sua mente se esvaziasse de tudo o que sabia e a força se lhe esvaísse da vontade. Por vezes, sentia-se como uma espécie de vegetal e ansiava por qualquer coisa – nem que fosse a dor – que o trespassasse, que o insuflasse de vida.»

John Williams, Stoner, trad. Tânia Ganho, Dom Quixote

(Uma descrição exacta do mal que me assolou nos últimos anos, e que de vez em quando ainda ameaça.)