31.12.15

Jornalismo, Portugal

Este ano referi-me ao Ípsilon como "o suplemento musical do Público", sem me alongar em explicações. Hoje, o Mário Moura, como de costume, resume tudo direitinho.
(Acrescentaria só "cinema", a par da literatura, e só depois as restantes manifestações artísticas.)

«Neste fim de ano, acumulam-se os fechos e despedimentos nos jornais. O Sol e o i fundem-se e despedem (o modo como isto foi feito impressiona pela arrogância descarada). O Público despede um monte de gente. Das reflexões que fui lendo (Vítor Belanciano ou Alexandra Lucas Coelho), falta falar dos problemas internos do jornalismo em Portugal. Fala-se de como reagir à internet (Belanciano) ou de como arranjar dinheiro (Lucas Coelho), junto de patrocinadores, novos ou velhos, e junto dos leitores. Defende-se o jornalismo como algo de interesse público.

Eu assino o Público e o Expresso, e é-me bastante penoso lê-los. A cobertura noticiosa nacional e o comentário político ainda são relativamente decentes. Preferíveis à televisão em geral. Do lado da cultura, é uma desgraça. Nunca houve tanta gente a trabalhar em arte, design, arquitectura, escrita ou música em Portugal, mas a cobertura é mínima e pouquíssimo arriscada. Perde-se tempo a apresentar traduções requentadas do que se passa lá fora. Mandam-se jornalistas cobrir o que já é coberto por toda a gente. Fazem-se peças de fundo sobre assuntos e pessoas batidos. O ípsilon é um jornal de música, depois de literatura e finalmente de arte, teatro, e muito pouca arquitectura e design. Os trilhos por onde anda são estafadíssimos. E o modo como trata os assuntos, idem. O expresso ainda consegue ser mais fraco.

A reacção mais comum de um leitor perante isto é dizer-se que não há crítica em Portugal.

É verdade que com pouco dinheiro não se consegue fazer grande cobertura, etc. Mas se não se arrisca também não se faz mais do que sobreviver à espera do fim.

Como leitor, assinante, espectador, assisto a uma imprensa que não me representa os interesses e que, quando confrontada com essa queixa recorrente, me diz que eu é que me deveria interessar no que fazem. Eu, como muitos leitores, leio o New York Times, o Guardian, a New Yorker e ainda mais coisas. Sei o que de melhor se faz no mundo. O que falta nisso é a cobertura do que se faz aqui mesmo e, lamento, os jornais não o estão a conseguir fazer. A sensação que fica é que nem sequer lhes interessa por aí além.»
- Mário Moura, no facebook