6.10.15

To think think sink

«Afundarmo-nos é o que há de mais fácil; basta cumprir todas as ordens que recebemos, comer apenas a ração, observar a disciplina do trabalho no campo. A experiência mostrou que apenas exceptionalmente se poderia sobreviver mais de três meses desta maneira. Todos os musselmans que acabaram nas câmaras de gás têm a mesma história ou, mais exactamente, não têm história; desceram a encosta até ao sopé, como riachos que correm para o mar.»

Primo Levi, Se Isto é Um Homem, trad. De Simonetta Neto, Teorema


"«Nenhum traço de pensamento, nenhuma vontade, nenhuma centelha divina. É para aí que nos dirigimos. (…) De homem a boneco em semanas. Todo um conjunto estranho de procedimentos e hábitos tomou possessão, possessão completa, nalgumas semanas, e Levi diz-nos, com toda a frontalidade, que apenas aqueles que mantiveram algumas reações suas – uma pequena centelha, um mínimo movimento, um vestígio de vontade independente, de vida, de pensamento – apenas aqueles que não deixaram o sistema em que estavam mergulhados tomar conta de tudo, apenas esses sobreviveram. No fim, a nossa verdadeira liberdade poderá não ser nada mais do que «o pequeno movimento que faz com que um ser social totalmente condicionado seja alguém que não devolve por completo aquilo que o seu condicionamento lhe deu*.»"

*De uma entrevista com Jean-Paul Sartre, «Itinerary of a Thought», em New Left Review, 1/58, novembro-dezembro 1969.

Vincent Deary, Somos Assim, trad. Pedro Vidal, Temas e Debates