1.3.13

Câmara Municipal de Aveiro impede actividade de Cineclube de Aveiro em 2013

O Cineclube de Aveiro ficou ontem a saber que será impedido pela Câmara Municipal de Aveiro de prosseguir em 2013 com a sua actividade regular, tendo sido afastado do Teatro Aveirense, único espaço disponível para esse fim no concelho, em favor de outra associação e à revelia de um protocolo firmado em 2009, que estava em processo de revisão mas que nunca foi denunciado e sempre foi infalivelmente cumprido pelo Cineclube de Aveiro. A incompreensível decisão, unilateral e nunca até hoje comunicada pela CMA, é ainda mais chocante por acontecer num momento em que o Cineclube de Aveiro esperava a regularização de avultadas quantias em dívida por parte do Teatro Aveirense (cuja responsabilidade foi entretanto transferida para a CMA) de modo a poder retomar a sua actividade, nos últimos meses suspensa precisamente por esse motivo. Há muito que tinha sido comunicado pelo Cineclube de Aveiro que só estaria em condições de retomar a programação cinematográfica no Teatro Aveirense quando a CMA liquidasse as suas dívidas, situação para a qual a CMA, na pessoa do seu Presidente, se prontificou a encontrar uma solução. Mas em vez de honrar os seus compromissos financeiros e institucionais, descobre-se agora que a CMA preferiu expulsar em silêncio o Cineclube de Aveiro do Teatro Aveirense.

Sublinhe-se que as dívidas em causa não se referem a subsídios mas a receitas de bilheteira do Cineclube de Aveiro indevidamente retidas pelo Teatro Aveirense, sem qualquer justificação e apesar dos inúmeros apelos ao longo de vários meses, durante os quais o Cineclube de Aveiro foi alertando para a impossibilidade de prosseguir a sua actividade caso a situação de incumprimento se mantivesse, especialmente num ano em que o ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual não distribuiu apoios à exibição cinematográfica. E refira-se ainda que o Cineclube de Aveiro, para além de assegurar as despesas referentes à sua programação, assegurava ainda despesas com pessoal afecto às exibições, incluindo o projeccionista, daí resultando uma situação muito vantajosa para o Teatro Aveirense, que garantia uma programação cinematográfica de qualidade praticamente a custo zero. 

Ironicamente, o Cineclube de Aveiro teve conhecimento da situação ontem, não pela CMA mas através do ICA, quando se preparava para submeter a sua habitual candidatura aos apoios anuais à exibição cinematográfica, concurso em que o Cineclube de Aveiro ocupa invariavelmente lugares cimeiros, num reconhecimento evidente da qualidade e da consistência da sua actividade ao longo dos anos. No entanto, da decisão da CMA resultou de imediato a impossibilidade do Cineclube de Aveiro concorrer aos apoios do ICA, perdendo assim a sua principal e imprescindível fonte de financiamento, para além de perder o acesso ao único espaço da cidade onde poderia operar de forma regular com as condições necessárias. Não existe assim qualquer alternativa à suspensão indefinida da actividade do Cineclube de Aveiro, com os óbvios e enormes prejuízos, e não apenas a curto prazo, para uma instituição de méritos amplamente reconhecidos e que muito tem feito pela cultura em Aveiro.

Vergonhosamente, tanto da parte da CMA como do Teatro Aveirense não houve qualquer tentativa de contacto referente à sua decisão, havendo apenas uma confirmação dos factos após um contacto telefónico por iniciativa do Cineclube de Aveiro, em que a actual vereadora da Cultura, Maria da Luz Nolasco, surpreendeu ao considerar normal a situação dado o suposto silêncio dos últimos meses do Cineclube de Aveiro e a suspensão recente da sua actividade. Esta reacção que só pode ser classificada como de um inexcedível cinismo dado o conhecimento e as responsabilidades directas que a vereadora tem sobre os motivos que levaram à actual situação.

Num momento em que o Cineclube de Aveiro é praticamente forçado à inexistência, não se pode deixar de registar o que este caso significa também em relação à política cultural do actual executivo camarário e à correcção, não apenas institucional, de quem a vários níveis o representa. Em vez de reconhecer uma das históricas instituições culturais da cidade, a CMA optou por hostilizá-la e ameaçar-lhe a sobrevivência. Em vez de apoiar um projecto consistente e de qualidade incontestável, a CMA optou por impossibilitá-lo e colocar em causa um trabalho contínuo de duas décadas. E em vez de dedicar uma particular atenção a um seu credor, a CMA optou por desconsiderá-lo da pior forma que poderia conceber. Desconhecem-se, e provavelmente desconhecer-se-ão sempre, os verdadeiros motivos que levaram a uma das mais incompreensíveis medidas de um executivo aveirense na área da cultura, mas dessa decisão não se poderá dizer nunca que foi inevitável ou minimamente lógica.

Para além da revolta (e da vergonha de ser isto possível numa cidade cujo potencial continua por cumprir), resta uma enorme vontade de prosseguir assim que possível um projecto que sempre foi conduzido com espírito de missão e que não merecia ser interrompido. A todos os que têm acompanhado o Cineclube de Aveiro, não iremos por isso deixar uma despedida. Apenas uma palavra de reconhecimento e um até breve.

A equipa do Cineclube de Aveiro