14.2.13

My Own Private Céline

Foi no último dia de exibição que revi o Holy Motors. Claro, cheguei atrasada (ó pá, poupa-me). Quando disse ao que vinha, o senhor da bilheteira arregalou os olhos, levantou-se numa aflição e, mesmo antes de ver que eu tinha medeia card, já decidira que só emitia o bilhete no fim, o importante era não perdermos mais tempo. Fechou o guiché à chave (os outros que esperassem) e levou-me em passo apressado dali para fora, mais precisamente para a sala do lado. «O filme já começou há dez minutos», disse-me, preocupado; respondi-lhe que sabia, mas que – menos mal – já tinha visto. Ficou mais descansado. Aconselhou-me a esperar que tivesse luz suficiente para descer as escadas, não fosse tropeçar, e despedimo-nos. Lembrou-me Céline, a conduzir a sua limusine em Holy Motors, sempre preocupada com a possibilidade de monsieur Oscar chegar atrasado às suas marcações. Uns fazem-no pela beleza do gesto, os outros reconhecem-no – e não é mais do que para celebrá-lo que aqui estamos. Durante aqueles trinta segundos, esteve tudo bem com o mundo.