24.9.12

To Rome With This Bullshit




Ainda não vi To Rome With Love, aparentemente o último cagalhão do Woody Allen, segundo os mais generalizáveis cagões deste mundo, mas admitir a hipótese de o filme ser o terceiro calhau a contar do Hollywood Ending, não deve impedir-nos de intervencionar na sociedade por uma maior eficiência na limpeza das almas. Como todos os anos em que estreia um filme seu se repetem as lágrimas gordas de uma vida passada entre as várias cadeiras disponibilizadas pela sociedade, eu não me reconheço outro remédio senão esticar os bracinhos o mais longe possível do meu torso em direcção aos vossos prantos e oferecer-vos uma cebola para chorarem com vontade. A pessoa mais espectacular de todos os planetas com vida explica. Estávamos em Dezembro de 2011:


«Há uma peça em cena em Lisboa, chamada Design for Living, que foi escrita e interpretada nos anos 30 por Noël Coward. O texto tem um ambiente extremamente familiar que não vem só da sua qualidade intemporal (nunca deixará de haver triângulos amorosos nem uma elite intelectual auto-excluída do povo) mas por antecipar em 40 anos e de forma extraordinária o molde que Woody Allen nunca mais deixou de usar.

Nem o mais experimentado crítico conseguiria saber qual dos autores escreveu a cena que junta uma decoradora de interiores, o seu marido muito mais velho, culto comerciante de arte, uma senhora que compra obras indiscriminadamente e um casal cuja mulher quer muito pertencer àquela gente ao contrário do marido que, fazendo-lhe a vontade, não demonstra qualquer pachorra para a pedantice instalada no apartamento caro de Nova Iorque onde se encontram depois da ópera.

Nunca perceberei o que levou a este cansaço generalizado que as pessoas parecem ter pela insistência de Woody Allen em fazer o mesmo filme todos os anos. Se não fosse por outra razão que não a gratidão (sou sensível a este argumento), a população não se devia deixar levar pelos insuportáveis lamentos de que no tempo de Hannah e Suas Irmãs e Manhattan é que era, o que na verdade não faz mais do que as transformar nas mesmas personagens que Allen coloca na fila do cinema em Annie Hall. No que me diz respeito, só em anos muito extraordinários é que um seu filme não entrou nos meus dez melhores em Dezembro.»