13.5.12

Destruidora de Lares, Lda.


© Alena Chendler 


Eu já ouvi de tudo. Que, no fundo, sou má pessoa. Que, na realidade, sou muito diferente da minha persona (alerta tradução: uma fraude). Que muitos me têm, e passo a citar, como «a maior fufa da blogosfera». Felizmente, por um qualquer acaso divino, sempre vivi esses momentos de auto-aprendizagem munida de muito álcool. Não perco uma oportunidade para celebrar.
Mas com as tresleituras posso eu bem. Principalmente, desde que deixei de ter comentários. É o regime mais democrático possível: cada um é livre de dizer o que entende e eu posso cuidar sem reservas da higiene dos meus ouvidos.
Por esta altura, 107,5% de vocês, estimados apreciadores de cinema norte-coreano, estarão já convencidos de que esta gravíssima situação de dissonância cognitiva me incomoda. Nada mais Aníbal Cavaco Silva. O que me incomoda, o que verdadeiramente me incomoda, é que eu tenha atingido um nível tal de incompetência que tenha deixado alguns de vocês a pensar que eu sou uma assassina de ninhos. A quantidade de pessoas que nesse dia abandonou a minha página no facebook deixou-me em alerta: Limão, as pessoas são sensíveis aos sem abrigo. E não gostam que tu discrimines os aspiradores. Pois eu estou aqui para varrer das vossas mentes conspurcadas a imagem da maldade: a única coisa que eu fiz - eu, Santa - foi observar, todos os dias, com uma fé decrescente nos objectos voadores, a obra desfeita de dois pardais intelectualmente limitados que, dia após dia, semana após semana, insistiram em fazer um ninho numa pequena caixa de electricidade por cima da minha porta, indiferentes ao facto de uma boa parte da sua construção aparecer espalhada no chão no dia seguinte. Conclusão, a minha vida nas últimas semanas foi deparar-me, ao abrir a porta de casa, com uma mensagem renovada de bons dias. Compreendo que vos tenha desagradado esta ideia de eu reagir aos destroços de um sonho a dois com uma vassoura, mas, reparem, eu tinha de escolher entre agradar-vos a vocês ou aos meus vizinhos. E, convenhamos, não são vocês que me são úteis quando eu preciso de ovos. De resto, devo avisar-vos de que toda essa compaixão por passarinhos burrinhos é imerecida: mal souberam que eu planeava fazer explodir as leis da natureza ajudando-os na primeira prestação do berço, piraram-se do prédio. Zero respeito pela humanidade.