10.11.10

Encenação



Recolhi-me ante o pano, renunciando ao espectáculo com um estrondoso silêncio. Basta. Um palco partilha-se enquanto profissional, nunca enquanto amador – tu sabes, aquele que ama. Enxuto com um gesto brusco a luz refractada por prismas, que ora não se demora na minha pele para perseguir a dela, ora me abandona à ribalta – luz quebrada quebra, corrói, esmigalha, empedirno, rio-me, ah carnificina. Votando a incidência da luz à indefinição, o incompetente mestre de obra obriga as suas actrizes a perseguir-lhe a sombra com a voracidade da sobrevivência. Sem perceber que, lá atrás, o público observa, estupefacto, incapaz de compreender.