12.6.10

Miserabilis

Por estes dias, sentámo-nos à mesa de um café para trabalharmos juntas, cada uma no seu projecto. Eu e o meu papel vegetal, ela e a sua tinta-da-china, e um senhor que se acercou endereçando-lhe um «espectacular». Eu, na minha sublimidade ferida, enfiei o corno no estuque e tomei-lhe a mão para uma fogosa valsa ao som das nossas bubuzelas mentais. Deliro, admito, eu deliro, mas delirar com ela é apenas natural.

A minha amiga, antes de o ser, era *só* a ilustradora que eu mais admirava e cujo trabalho eu seguia com asseverada dedicação. Hoje continuo a fazê-lo nos mesmos moldes cor-de-rosa purpurina, mas com o privilégio de poder assediá-la de perto com o meu próprio «espectacular» (já tenho cama onde ficar caso precise - a vida corre-me bem).

Os nossos corações são partidos, os nossos suspiros pouco comedidos e os nossos nomes manos: eu sou a azeda da praça e ela é a Mariana, a Miserável. Da sua miséria faz pêras doces e dá pêros surdos, vendendo a sopa final a preço de ouro à chuva. De Leiria para as Caldas fez-se designer, das Caldas para Barcelona fez-se designer empregada, de Barcelona para Lisboa fez-se aspirante a portuense e de Lisboa para o Porto fez-se aclamada ilustradora: tem um livro editado, tem actualmente desenhos e serigrafias à venda na Ó! galeria, no CCBombarda, e hoje inaugura mais uma exposição do coração no Contagiarte (Rua Álvares Cabral, 372), pelas 22h30.

A valência estética e técnica do seu trabalho são inegáveis e inconfundíveis, mas são o seu peculiar sentido de humor e uma fina ironia os seus mais irresistíveis trunfos. Sabem aquelas obras de arte a reboque de certos títulos? Não tem nada a ver. Mas as suas ilustrações são, de facto, inflacionadas pelo uso da palavra.

Deixo-vos com algumas das minhas ilustrações preferidas, correndo sérios riscos de vos ver debandar sem bê de bolta para os braços da Miserável, votando-me a mim à miséria. Mas hey!, já dizia o Jorge Palma: enquanto houver miséria onde nadar, a gente há-de continuar.






















Eu!




Tungas!


Não se esqueçam: têm até 3 de Julho para visitá-la, mas a inauguração é hoje, no Contagiarte, a partir das 22h30. E, depois, é só continuar a namorá-la ali e ir descobrindo porque é que ela acha que é Deus. Eu, a julgar pela fotografia que lhe tirei, estou tentada a concordar.

***
Esta declaração de amor estava prometida há muito. Recentemente garanti-lhe que não estava esquecida e tive como resposta este miserável lamento «oh, agora já nem se pode comentar». Vai daí, como sou espectacular, abri os comentários. Mas:

1. a medida é temporária: depois deste post, volto a excluí-los;
2. escusam de se esforçar nos insultos, porque activei a moderação;
3. só publicarei os comentários que forem feitos neste post;
4. sejam re-bem-vindos à rambóia.