1.4.10
Sexo, Mentiras e Vídeo
(...) Percebi que era uma mulher normal, alguns anos mais tarde, quando vi o primeiro filme do Steven Soderbergh. Foi uma revelação. Afinal havia mulheres como eu, mulheres que gostavam de sexo e que não esperavam pelos homens para cumprir os seus desejos. Suspirei de alívio. Ainda por cima, as mulheres desse filme, são só duas, eram muito mais bonitas e interessantes do que aquelas com quem me cruzava no bairro e na universidade. Tal facto consolou-me. Apaixonei-me naturalmente pelo James Spader, o impotente. (...) Ana de Amsterdam
Por diversas vezes me ocorreu escrever sobre o impacto que Sex, Lies, And Videotape teve no rebuliço da minha vida interior, visto sem ter idade para tanto e sem que esse factor de distanciamento se cumprisse. É um filme que me acompanha há tantos anos, que é talvez aquele que mais me marcou num tempo prematuro de adolescência, de começos, de dúvidas e de auto-descoberta, pelo grau de identificação e pela consciência de que entrara num domínio adulto que ainda me era vedado. A minha relação íntima e solitária com o cinema e com a música remontam a um tempo precoce - não há nada a fazer, é antigo este meu downgrade. Naturalmente, também eu me apaixonei por James Spader.