A Estrada é um livro cuja forma reflecte o conteúdo: sem capítulos e sem pausas, apenas com uns muito esporádicos asteriscos entre parágrafos, e entre cada parágrafo um espaçamento, como que a marcar o nosso fôlego. Na verdade, esse fôlego é também o das personagens, pai e filho, que caminham lado a lado, estrada e floresta fora, num cenário coberto de cinzas do mundo que outrora conhecêramos. Se não aguentarmos o ritmo da caminhada, somos obrigados a parar a leitura em qualquer lado, da mesma forma que pai e filho se vêem obrigados a parar para descansar na berma da estrada, no meio do bosque, no alto de um penedo ou num qualquer barracão.
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Há muito tempo que não chorava a ler um livro. Sinto-me um limão espremido. Como se o livro se tivesse alimentado de mim, mais do que eu dele. Entranha-se e entristece-nos muito, aos poucos e em crescendo. Não sei o que me apetece ler a seguir, porque agora não me apetece nada. Resta-me então – finalmente! – o filme.