22.3.10
Um Homem Singular
Vi A Single Man sem ter presente, em nenhum momento, que se tratava do filme de um estilista. Qual não é o meu espanto ao constatar depois, lendo textos sobre a obra, que nenhum crítico ou comentador resistira à psicanálise. É a diferença entre ter um olhar condicionado por informações prévias e ter um olhar livre e mais puro. Uma ideia que vai de encontro àquela que expressava Catarina e que eu citei, a propósito dos livros que lemos (líamos) de uma forma descomprometida, independentemente do nome do autor, da editora ou de outras informações análogas. No caso, é irrelevante: fosse o realizador unicamente um realizador e ninguém psicanalisaria as suas escolhas estéticas – ou não fosse intrinsecamente adequado à caracterização das personagens e de uma época e mesmo à qualidade de uma realização o cuidado com o décor, com o guarda-roupa e com o etc. Uma estética só é censurável se for oca – não é o caso. É certo que eu dei por mim a pensar que havia ali dois momentos Martini e pensei-o exactamente nestes termos. A diferença é que os enquadrei perfeitamente na ambiência do filme. Estamos perante um homem que, determinando aquele dia como o último da sua vida, tem uma vivência dessas horas entre o sub e o hiper-realista. Por amor de deus, ele observa sorrisos em close-up e estes tingem-se de cor. Eu não via brincadeiras fotográficas tão sérias no cinema desde as últimas brincadeiras fotográficas tão sérias no cinema. Mas afinal de contas, eu compreendo. Os tropeções no realismo são absolutamente condenáveis – estamos a falar de cinema, caramba! Bom, e é tudo. Bom não, muito bom.