23.3.10
Fish Tank
Pela boca morre o peixe, um desígnio comum ao peixe de água doce que Connor pesca e perfura goela abaixo e aos peixes de aquário, os habitantes de Fish Tank. É pela boca que ali se morre e ali morre-se muito. Se há talento transversal às personagens de Fish Tank é essa habilidade em fazer das palavras e dos corpos armas. O que se diz arremessa-se, joga-se fora, joga-se contra, joga-se dentro, e bem fundo. O corpo de Mia quando não fere outro, dança. O seu corpo é a sua arma e a sua defesa. E será o seu o mais ferido.
Vítima e agressora, inocente e culpada, heroína e o seu contrário. Ao fim de cinco minutos de filme, ela é efectivamente uma anti-heroína, mas Andrea Arnold obriga-nos a abandonar essa ideia tentando-nos com a sua redenção sem, no entanto, permitir que dela nos convençamos totalmente. Chegamos ao fim com os mesmos sentimentos contraditórios, entre a comoção e um dedo acusador. Mas como ninguém se salva, tudo bem.