Édipo é um temperamento violento e irritável, irredutível, que, sob a acção de cólera ou do desespero, profere palavras terríveis e impensadas – decerto! –: mas por isso teremos de distinguir entre os actos e afirmações feitos no pleno domínio de si ou feitos sob o ardor da paixão.
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Como todos os temperamentos impulsivos e generosos, Édipo é mais permeável a argumentos de ordem afectiva, vindos sobretudo de pessoas que estima.
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O herói de sentimentos tão violentos que deixa partir Creonte com a promessa terrível do seu ódio é o homem também capaz de amar profundamente. Uma e outra face são, como já vimos, a expressão simétrica da sua capacidade imensa de sentir, até ao esquecimento de si próprio.
Maria do Céu Zambujo Fialho, na introdução a Rei Édipo, de Sófocles, que traduziu para as edições 70