16.10.09

O pior tipo de escritor

O café Piolho é uma fonte inesgotável de animação, embora nem sempre pelos melhores motivos. O episódio vivido ontem teve a pretensão de reclamar o pódio. Fui interpelada por um «escritor que não vende livros» (assim mesmo se apresentou), solitário na mesa em frente, desesperado por impingir-me o seu exemplar, que fez questão de ir buscar ao carro, sobre cujo design quis conhecer a minha opinião; e se sabia que perguntava à pessoa certa foi porque iniciou a conversa perguntando de rompante: «a menina é das artes?». Eu e o meu melhor sorriso amarelo acabaram mesmo por azedar quando o escritor abriu o naipe das questões invasivas, como se me espetasse um dedo no olho: quanto tempo demoraria a lê-lo (como se a sua oferta implicasse a minha receptividade), como é que faria para lhe comunicar a minha opinião, se tinha número de telefone, se estava por ali todos os dias. Despachei-o bruscamente e saí. Mal por mal, prefiro os maluquinhos virtuais -- reduzem a probabilidade de sermos instados a olhar para trás no regresso a casa.