3.7.09

i ran

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As imagens são violentas – chegam a ter vida e sangram. O mundo enlouquece, algures entre a revolta e a sede de mediatismo. Todos participamos, com mais ou menos horror, com mais ou menos indiferença. É lá ao longe, não somos nós. Suspiramos de alívio, às vezes choramos, e depois olhamos para o lado e puxamos do comando, está a dar o Family Guy. Acontece, no entanto, que nem sempre são as imagens que ficam, mas as palavras, como uma obsessão consentida, e são elas que nos tiram o sono. Porque quando Neda diz, depois de baleada e antes de se esvair em sangue, «estou a arder, estou a arder», a informação deixa de ser visual e passa a ser física. Nesse momento, em que nos perguntamos como será sangrarmos até à morte, ela dá-nos a resposta. É então que relembro a senhora idosa que morreu na minha rua, à minha porta, enquanto caminhava lado a lado com a filha. Agarrou-se a ela em agonia e antes de cair disse-lhe: «ai, filha, nunca pensei que morrer doesse tanto». Não esqueço. Nunca pensei que morrer doesse tanto.