6.6.09

Uma urgência em câmara lenta

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Ele vê-a pela primeira vez. Ali no meio da combustão de chapas, algo se queima mais fundo (ou derrete?). Esperámos quase uma hora para vê-los juntos no mesmo plano, mas eles nunca estarão no mesmo plano. Inventou-se o amor com carácter de urgência; mas o filme corre ao ritmo a que o amor se constrói: lentamente. O nosso olhar é moroso como é moroso o olhar dos amantes – um olhar que se demora sobre o outro. Dá-nos a sensação (hoje tão rara) de acompanhar uma história em tempo real. A câmara acompanha os seus passos (eles passeiam muito) e depois pára diante de uma parede que tem uma mesa que tem uma jarra que tem uma flor. Mas uma imagem imobilizada não abafa um movimento, aquele compasso partilhado. Naquele instante, não os vemos, como se precisássemos. Ali, a substância escapa ao enquadramento, mas não se pode ter tamanha pretensão, exibir o invisível.


(Escrevi este texto há dois anos. Escrevo muito mais do que publico.)