15.5.09

dreaming only makes me blue

Sonhei que engravidava do Zé e não do Pedro, que era o meu namorado, sem que nenhum deles soubesse da troca; que tinha o filho; que o deixava morrer sem querer; que sentia alívio; que ele ressuscitava; que eu ficava simultaneamente contente e desesperada e que, chegada a casa, definhava em descontrolo. Eu com vinte e poucos anos e tantos sonhos, um filho ilícito, um amor destruído e um segredo fodido. Nunca se ouviu um único som vindo do bebé.

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Nesse dia, a crónica do Pedro Mexia, no Público, sobre o infortúnio de uma actriz que teve um bebé de um tipo de quem se tinha separado pouco tempo depois de se saber grávida e que entretanto casara com outra, foi de um timing devastador. Dela retive uma ideia que me persegue: a de que pode haver uma traição apesar dos factos que a desmentem. «Tecnicamente, Bridget não foi trocada (que conceito) por Gisele. Mas a verdade é que quando o impetuoso quarterback Brady catrapiscava modelos voluptuosas, a ex-modelo Bridget, já com 36 anos, tinha um filho sozinha e entrava em depressão.» Mas o verdadeiramente espantoso acontece a este instante: «(…) conta que quando regressou da maternidade não evitou um ataque de choro: “Toda a gente diz: ‘Dás à luz, vais para casa, e tens um bebé espantoso e é tudo espantoso.’ Mas eu cheguei a casa e comecei aos soluços.”». Muito irónico.

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As coincidências não terminaram ali. Pelo caminho, até chegar ao café onde li a crónica, fui ouvindo música. Mal ligo o iPod em The Magnetic Fields, eis que se solta a língua de Stephin Merritt desta forma: "i gotta get too drunk to dream, 'cause dreaming only makes me blue". (…)

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Será difícil voltar a ficar tão passadinha como nesse dia.
(Mas nem isto é verdade.)