15.7.09

2 out of 3 rule

Sobre Kim Novak, em Vertigo, Truffaut diz: «'Não é todos os dias que se vê uma estrela americana tão carnal no ecrã. Quando a encontramos novamente na rua, no papel de Judy, com o cabelo ruivo, torna-se muito animal devido à maquilhagem e possivelmente porque não leva soutien debaixo da camisola…'. Hitchcock responde de forma depreciativa: 'De facto, não leva e é uma coisa de que se gaba continuamente.'»*
As maminhas sem rede da Kim Novak: eis o que mais me surpreendeu em Vertigo. Maminhas é um eufemismo que ainda assim me parece apropriado – achei-as muito queridas. A partir desta frase, o texto é todo ele muito sério: a contradição entre o erotismo quase despropositado do filme e a castidade de uma época que ainda impunha que se beijasse sem alma no grande ecrã é, no mínimo, intrigante. Até porque as surpresas não terminam aqui: há ainda a cena em que Scottie salva Madeleine do rio e a arrasta até à margem com o braço sobre o seu peito e a mão praticamente sobre a sua mama. Chega a ser constrangedor de tão inesperado.
Outro aspecto surpreendente é ver como Hitchcock parece contrariado em relação à ausência de soutien da actriz, como se afinal a sua vontade de nada valesse face à de Kim Novak. Mas é natural que maminhas daquelas levassem a sua avante.


*Vertigo, The Hitchcock Collection, Público


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