25.2.07

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Reflexo de sobrevivência ou não, tive medo que o fosse fazer algures, por isso aceitei ser mãe, mas negociei. Preveni que só queria uma.
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Fizeram-me um exame e foi daí que se deram conta de que eu esperava gémeas. Perguntei logo se não eram siamesas. A ideia de ter duas crianças unidas pelo ombro, pelo pé ou pela passarinha repugnava-me.
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Aos três anos, foi preciso levá-las à escola pela primeira vez. Até aí, tínhamo-nos desenrascado com a carrinha do meu marido, mas ele tinha escolhido a dedo aquele dia para estar fora, juro-vos. (…) Tive de a levar ao colo, eu que sofro das costas. E aí, por culpa da lei dos números, não cabiam no meu mini-Smart. Tentei meter uma delas na bagageira, mas estava cheia com as cadeirinhas. Sentei-as finalmente uma em cima da outra no lugar do morto, mas gritavam em altos berros, não conseguia ouvir nada do rádio. A manhã começava bem. Abri a porta e atirei a de cima para a estrada. E confesso não estar muito contente com o meu gesto, porque atirei a que se portava melhor.
Têm de compreender, eu tinha avisado o meu marido, não apanhei ninguém à traição, eu tinha dito que sim, de acordo, mas tinha dito uma.

Claire Castillon, O Insecto e Outras Histórias de Mães e Filhas, Oceanos