18.1.15

De novo, o futuro

Lamento ter-lhe ocultado a razão exacta pela qual quis consultar o documento que teve a amabilidade de me facultar. Mas será que lhe menti quando lhe disse ser editor de arte?
Apercebi-me de que acreditara. É a vantagem de ter mais vinte anos do que os outros: ignoram o nosso passado. E mesmo quando nos fazem distraidamente algumas perguntas sobre o que foi a nossa vida até então, podemos inventar. Uma nova vida. Eles não irão verificar. À medida que relatamos esta vida imaginária, intensas lufadas de ar fresco atravessam um local fechado onde há muito sufocamos. Abre-se bruscamente uma janela, as persianas batem com o vento forte. Temos, de novo, o futuro à nossa frente.

Patrick Modiano, No Café da Juventude Perdida, tradução de Isabel St. Aubyn, Edições Asa