27.12.14

Meninas

Quando as meninas
fitam o nada
de olhos vagos

Uma brisa cruel
vacila e sussurra
no seu peito

Estão a ver um anjo
– imagino

Mas as mães
            desesperam


Maria Teresa Horta, Meninas, Dom Quixote

26.12.14

Pais a caminho

Chegou aquela altura do ano em que parece mal viver como vivo nos restantes 360 dias.

17.12.14

And the Oscar goes to

Arrogantes os jovens e os sãos, os que têm tudo sob controlo, os que não vacilam ou vão de braço dado para o desamparo, os que ainda não perderam a beleza, os que não sucumbiram ao desgosto, à proximidade da morte, ao risível, à implosão da sua própria estrela. A tua fragilidade não me diverte, o teu falhanço não me anima. A única coisa que querias era resplandescer, ser ainda jovem e radiosa, vivaça como a vestimenta que escolheste, e aparecer no retrato de família, no lugar que ganhaste por direito. Porque não nos limitámos a saudar a tua presença, a ignorar a tua periclitância? No dia seguinte, Liza, achei tão triste, tu não?

2014, um balanço

O melhor de 2014 é aquilo que eu tenho planeado para acontecer em 2015.

Shit happens

Pensas que nunca te vai acontecer, que não te pode acontecer, que és a única pessoa no mundo a quem essas coisas nunca irão acontecer, e depois, uma a uma, todas elas começam a acontecer-te, como acontecem a toda a gente.

Paul Auster, Diário de Inverno, tradução de Francisco Agarez, Asa

Construção

If those whom we begin to love could know us as we were before meeting them… they could perceive what they have made of us.

Albert Camus (via Joana Linda)

14.12.14

Natureza

Assim que descobrem a verdade na natureza, encerram-na de novo num livro, onde a mesma se encontra em muito menos segurança.

Lichtenberg, Aforismos, tradução de João da Fonseca Amaral, Editorial Estampa

13.12.14

Despesa Diária, VII

Querida Luísa: já aí anda, cabisbaixo e à chuva, o meu sétimo texto para o Despesa Diária.

I, II, III, IV, V, VI.

9.12.14

Trabalho, III

(Confesso que revi muitas vezes. Foi feito para mim.)

Trabalho, II

Atendo o telefone.

– Bom dia.
– Olá, Cláudia, é o Hugo.
– Olá, Hugo. Já me reconheces à primeira?
– Sim, reconheci-te pela apatia.

Trabalho, I

Chamo a atenção para algo que foi mal feito. Colega recém-chegado pede desculpa pelo erro.

– Não precisas de pedir desculpa por causa de um engano.
– Ah... fizeste cara de má...

Colega (b) em meu auxílio:

– Aquilo não é cara de má, é a cara dela.