27.3.13

Will, oh will, oh wilderness, my wilderness


Quanto mais se adensa a atmosfera, mais ela ergue a voz, límpida e triste, contra o nevoeiro. Assim se canta a asfixia, como quem está prestes a desintegrar-se. A verdade é que não precisamos de conhecer-lhe o texto para percebermos o que sente, uma proeza tão especial que eu dou por mim a achar, com a insensatez do apaixonado, que Taxidermist, Taxidermist já é a música do ano.

The postman only rang once

Hoje, o carteiro, em vez de me dar os bons dias, deu-me o Hitchcock/Truffaut. Mal educado.

25.3.13

Desenho cego #7




© Menina Limão
Rogério Casanova 

Desenhos cegos são aqueles que resultam de se olhar o tempo inteiro para o objecto em reprodução e nunca para o papel.

[Os anteriores desenhos cegos foram substituídos. Estão mais bonitos.]

Mefisto-Mefez, volume XV



Mefisto apontou-lhe o dedo acusador. O amor era aquilo e a menina a empederni-lo com o seu grito de liberdade. Mas ela avisara-o: coice no cu do Belzebu e ponho-me a trote, o lado mau da barricada é das outras, camafeu, não meu. E foi assim que a besta, a fera, o predador camuflado, o rei da selva bem amado, se viu, para seu terrível espanto, sem um braço.

Os álbuns de 2013, III


Torres, Torres (2013)

24.3.13

Consider the hands





Naturalmente, perdi-me de amores por Bresson.

Oh, waterfall, do you ever think maybe it will all be better in the morning?


© Josephka

Nowhere to go but down 
Nothing to do but drown

Torres, Waterfall

Semblantes de Flannery

(…) o seu rosto tinha um aspecto frágil (…) como uma arma que ninguém sabe se está carregada.

Flannery O’Connor, Sangue Sábio, tradução de Nuno Batalha, Theoria

23.3.13

Os álbuns de 2013, II


Lady Lamb The Beekeeper, Ripely Pine (2013)
[uma capa de merda, no entanto]

22.3.13

I’m a ghost and you all know it


Estou naquela altura do mês, estou a brincar, já nasci assim. O trabalho de ginásio três vezes por semana não é suficiente para libertar o corpo das toxinas da fúria. Uma pessoa vê-se forçada a socorrer-se do rock ‘n’ roll.
Perdida na tradução, I’m a sucker por miúdas que berram e gritam e não alcançam (elas gritam melhor, não é, Segismundo?), por vozes que pulsam como se trouxessem o coração na garganta, com uma ferocidade adulta que engana: 30 anos na voz, 14 no corpo, 23 de identidade, 18 à altura da composição – espantem-se. 2012 foi o ano da Fiona e que bem que ela gritava. Não é pedir muito, que todos os anos haja alguém que dê corpo à vontade universal de partir esta merda toda. Desde que fomos invadidos por móveis IKEA que o mundo anda a pedi-las. Bird Balloons é daquelas músicas que uma Limona ouve e sente logo vontade de escrever não sei o quê, porque tem muitas camadas para todas as amplitudes emocionais (sinto muito) e no final há uma Lady a chafurdar na puta da loucura, que é sobretudo o que nos arrasta para a luta das entrelinhas. Quem for pela doçura, não fica sem programa, basta que se demore na beleza com que ela entoa, exactamente a meio, «my limbs, my love», um pouco antes de anunciar «this is my loss of love, my loss of limb».

This is my loss of love, my loss of limb
You were my friend
but now
I'm a ghost and you all know it
I'm singing songs and I ain't stopping
My hair grew long so I fucking cut it
and when you looked away
I snuck those trimmings in your locket
Ha-ha-haa-ha-ha

Poesia Quase Anónima, the comeback






© Menina Limão

Lembram-se da exposição Poesia Quase Anónima - a poesia na blogosfera portuguesa? 20 poemas x 20 bloggers x 20 ilustrações minhas? Foi em 2008, primeiro em Aveiro, depois no Porto. E agora chega a Coimbra, inserida na programação do festival de poesia Mal Dito, que decorre entre 21 a 24 de Março. Inaugura (e dinamita-se) dia 24, domingo, na cafetaria do Museu da Ciência, às 11h30. Entretanto, algumas das minhas ilustrações foram incluídas no último número da revista A Sul de Nenhum Norte.

Iniciativa e selecção dos poemas
Pedro Jordão & Menina Limão

Design e ilustrações
Menina Limão

Só não foi mais do mesmo

Sobre a sessão de falatório que se seguiu ao visionamento (ué) de (Maravilhosos) Verdes Anos, com Mário Jorge Torres, Isabel Ruth, Manuel Mozos e Alberto Seixas Santos, uma única queixa de pêlo na venta: não se falou o suficiente de Nuno Bragança. Ou melhor, não se falou de Nuno Bragança. Dizer que o texto é maravilhoso até o pascácio, ué ué ué. Onde é que há sítios onde se fale de Nuno Bragança para além de todos aqueles que eu frequento enquanto lá estou? Senhores, a obra completa passou de 28€ para 9,90€. Já não me lembrava de comprar um livro. Fiquei tão excitada que comprei dois.

21.3.13

Pretensões de what the fuckness – ah! Deves pensar.





O último filme que vira no Nimas havia sido Tabu, de Miguel Gomes. O Tabu tem uma cena à porta do Nimas. Depois, vi aí Verdes Anos, de Paulo Rocha. O Verdes Anos não tem nenhuma cena à porta do Nimas, por isso Jesus teve de se esmerar e então, no fim, mandou o Carloto Cotta sair do Tabu e pôr-se à porta do Nimas. Se não fosse sempre twilight zone nesta cabeça, ainda me punha a estranhar.

15.3.13

Atenção

Se me vires, não me reconheças.

músicas perfeitas (para cortar os pulsos) #6

Take my word for it, I'm not worth it
I ignored you all night and you don't deserve it
Morning, bathtub, my skin soft and hot
I was sure you were right but you're not
I contemplate my ruined fate
Someone will hurt me so bad one day
And you'll resonate or I'll apologize
Or maybe I'll make the same mistake twice
I hide from phone calls under the warm water
Malice desists, no it woefully recurs
And it plays like daytime TV shows, I confuse you
And I tell you not to love me
But I still kiss you when I want to
And I lament, you're innocent
But somehow the object of my discontent
And it's fucked up, I let you in
Even though I've seen what can happen
You make a tape, I receive it in the mail
And I force myself busy, the diversion will prevail
And I will swallow all my guilt with little pills and forge my chin up
And I will only think about it in the morning, in the bathtub

One pill can change your life


Não leia a bula. Muitas vezes, a nossa consciência dos efeitos secundários é o que os provoca. Segundo conselho: faça como eu, não leia rigorosamente nada sobre um filme antes de o ver.

Uma família feliz

Hoje, toda a gente teve correio. Eu, ele e a ex.

13.3.13

True, true #2

I said to you on the night that we met «I am not well»
[Waxahatchee, Brother Bryan]

True, true #1


If you think that I’ll wait forever, you were right
[Waxahatchee, Blue Pt. II]

Os álbuns de 2013, I



I had a dream last night, we had hit different bottoms 
[Waxahatchee, Lively]

11.3.13

In-yer-face


© Ana Konjovic 
O problema das pessoas é acharem que eu tenho algum pudor em dar-lhes na tromba.

10.3.13

Vícios #7



I don't give a fuck, I be mobbin
Que badass.

Fenómenos de sincronização por estudar

Sábado de manhã, tentava o meu escravo sexual e aquecimento central que eu acordasse e me levantasse da cama, como sempre, contra a minha espartana resistência, quando de súbito se ouviu o velho rezingão do andar de baixo gritar «levanta-te, caralho, pá!» Achei tanta graça que obedeci.

6.3.13

1º dia de ginásio

Contagem de bocejos: 3.

Se eu fosse um vídeo #16 / Vícios #6


Estou tão viciada nesta música, nem queria acreditar quando vi o vídeo.

1.3.13

Câmara Municipal de Aveiro impede actividade de Cineclube de Aveiro em 2013

O Cineclube de Aveiro ficou ontem a saber que será impedido pela Câmara Municipal de Aveiro de prosseguir em 2013 com a sua actividade regular, tendo sido afastado do Teatro Aveirense, único espaço disponível para esse fim no concelho, em favor de outra associação e à revelia de um protocolo firmado em 2009, que estava em processo de revisão mas que nunca foi denunciado e sempre foi infalivelmente cumprido pelo Cineclube de Aveiro. A incompreensível decisão, unilateral e nunca até hoje comunicada pela CMA, é ainda mais chocante por acontecer num momento em que o Cineclube de Aveiro esperava a regularização de avultadas quantias em dívida por parte do Teatro Aveirense (cuja responsabilidade foi entretanto transferida para a CMA) de modo a poder retomar a sua actividade, nos últimos meses suspensa precisamente por esse motivo. Há muito que tinha sido comunicado pelo Cineclube de Aveiro que só estaria em condições de retomar a programação cinematográfica no Teatro Aveirense quando a CMA liquidasse as suas dívidas, situação para a qual a CMA, na pessoa do seu Presidente, se prontificou a encontrar uma solução. Mas em vez de honrar os seus compromissos financeiros e institucionais, descobre-se agora que a CMA preferiu expulsar em silêncio o Cineclube de Aveiro do Teatro Aveirense.

Sublinhe-se que as dívidas em causa não se referem a subsídios mas a receitas de bilheteira do Cineclube de Aveiro indevidamente retidas pelo Teatro Aveirense, sem qualquer justificação e apesar dos inúmeros apelos ao longo de vários meses, durante os quais o Cineclube de Aveiro foi alertando para a impossibilidade de prosseguir a sua actividade caso a situação de incumprimento se mantivesse, especialmente num ano em que o ICA - Instituto do Cinema e do Audiovisual não distribuiu apoios à exibição cinematográfica. E refira-se ainda que o Cineclube de Aveiro, para além de assegurar as despesas referentes à sua programação, assegurava ainda despesas com pessoal afecto às exibições, incluindo o projeccionista, daí resultando uma situação muito vantajosa para o Teatro Aveirense, que garantia uma programação cinematográfica de qualidade praticamente a custo zero. 

Ironicamente, o Cineclube de Aveiro teve conhecimento da situação ontem, não pela CMA mas através do ICA, quando se preparava para submeter a sua habitual candidatura aos apoios anuais à exibição cinematográfica, concurso em que o Cineclube de Aveiro ocupa invariavelmente lugares cimeiros, num reconhecimento evidente da qualidade e da consistência da sua actividade ao longo dos anos. No entanto, da decisão da CMA resultou de imediato a impossibilidade do Cineclube de Aveiro concorrer aos apoios do ICA, perdendo assim a sua principal e imprescindível fonte de financiamento, para além de perder o acesso ao único espaço da cidade onde poderia operar de forma regular com as condições necessárias. Não existe assim qualquer alternativa à suspensão indefinida da actividade do Cineclube de Aveiro, com os óbvios e enormes prejuízos, e não apenas a curto prazo, para uma instituição de méritos amplamente reconhecidos e que muito tem feito pela cultura em Aveiro.

Vergonhosamente, tanto da parte da CMA como do Teatro Aveirense não houve qualquer tentativa de contacto referente à sua decisão, havendo apenas uma confirmação dos factos após um contacto telefónico por iniciativa do Cineclube de Aveiro, em que a actual vereadora da Cultura, Maria da Luz Nolasco, surpreendeu ao considerar normal a situação dado o suposto silêncio dos últimos meses do Cineclube de Aveiro e a suspensão recente da sua actividade. Esta reacção que só pode ser classificada como de um inexcedível cinismo dado o conhecimento e as responsabilidades directas que a vereadora tem sobre os motivos que levaram à actual situação.

Num momento em que o Cineclube de Aveiro é praticamente forçado à inexistência, não se pode deixar de registar o que este caso significa também em relação à política cultural do actual executivo camarário e à correcção, não apenas institucional, de quem a vários níveis o representa. Em vez de reconhecer uma das históricas instituições culturais da cidade, a CMA optou por hostilizá-la e ameaçar-lhe a sobrevivência. Em vez de apoiar um projecto consistente e de qualidade incontestável, a CMA optou por impossibilitá-lo e colocar em causa um trabalho contínuo de duas décadas. E em vez de dedicar uma particular atenção a um seu credor, a CMA optou por desconsiderá-lo da pior forma que poderia conceber. Desconhecem-se, e provavelmente desconhecer-se-ão sempre, os verdadeiros motivos que levaram a uma das mais incompreensíveis medidas de um executivo aveirense na área da cultura, mas dessa decisão não se poderá dizer nunca que foi inevitável ou minimamente lógica.

Para além da revolta (e da vergonha de ser isto possível numa cidade cujo potencial continua por cumprir), resta uma enorme vontade de prosseguir assim que possível um projecto que sempre foi conduzido com espírito de missão e que não merecia ser interrompido. A todos os que têm acompanhado o Cineclube de Aveiro, não iremos por isso deixar uma despedida. Apenas uma palavra de reconhecimento e um até breve.

A equipa do Cineclube de Aveiro