30.4.10
I'm digging for fire
O Ministro das Sobras Públicas trabalha com excedentes. Não os vemos para não os roubarmos, mas eles existem e são conduzidos a bom porto. O plano é muito sábio: quando o navio estiver atolado de riqueza, afundamo-nos todos.
These things take time
Não me batas, ainda estou dorida do mês passado; este mês não consegui chegar a tempo a qualquer iniciativa cultural:
Lisa Germano no Theatro Circo
Taxi Taxi! no Passos Manuel
Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton
Nosferatu, de Herzog
O Casamento de Maria Braun, de Fassbinder
Tantas vezes tentei ir ver o Alice e não consegui que acabei por não o ver. Substituí-o pelo Tony Manero (não gostei) e pelo Ervas Daninhas (gostei de muitas coisas, mas não consegui gostar do filme; aconteceu-me o mesmo com o Coeurs). Tudo bem que não poderia ter chegado a tempo das Taxi Taxi! fazendo gincana após o concerto da Lisa Germano (vamos esquecer que o Philip Selway existiu), mas também só por terem decorrido no mesmo teatro é que cheguei a tempo de Effi Briest, de Fassbinder, após o Nosferatu.
Daqui se conclui que a solene resolução de em 2010 me tornar uma pessoa melhor não está a funcionar. Tendo em conta que eu nunca chego atrasada a eventos culturais, é a medo que colocamos a hipótese de estarmos inclusive a piorar. Faremos uma atenta revisão dos nossos métodos; colocaremos a hipótese de choques eléctricos.
Lisa Germano no Theatro Circo
Taxi Taxi! no Passos Manuel
Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton
Nosferatu, de Herzog
O Casamento de Maria Braun, de Fassbinder
Tantas vezes tentei ir ver o Alice e não consegui que acabei por não o ver. Substituí-o pelo Tony Manero (não gostei) e pelo Ervas Daninhas (gostei de muitas coisas, mas não consegui gostar do filme; aconteceu-me o mesmo com o Coeurs). Tudo bem que não poderia ter chegado a tempo das Taxi Taxi! fazendo gincana após o concerto da Lisa Germano (vamos esquecer que o Philip Selway existiu), mas também só por terem decorrido no mesmo teatro é que cheguei a tempo de Effi Briest, de Fassbinder, após o Nosferatu.
Daqui se conclui que a solene resolução de em 2010 me tornar uma pessoa melhor não está a funcionar. Tendo em conta que eu nunca chego atrasada a eventos culturais, é a medo que colocamos a hipótese de estarmos inclusive a piorar. Faremos uma atenta revisão dos nossos métodos; colocaremos a hipótese de choques eléctricos.
A utopia saiu-te cara. A mim não, nada.
Moby Dick, Melville (Penguin) = 5€;
Teatro de Gogol (3 peças) = 5€;
O Primeiro Amor, Turguéniev = 3€;
O Sósia, Dostoiévski = 3€;
Utopia, Thomas More = 2€;
A Spy in the House Of Love, Anaïs Nin = 2,5€.
E ainda tive um desconto de 2€, ou seja, a Utopia não custou nada. Longa vida aos alfarrabistas.
29.4.10
É uma doença bem chata
Por favor, parem com essa moda de se apregoarem bipolares. Não só não é cool, como é um perfeito disparate.
Formatei o computador. Depois descobri que o problema era do rato. Estou a sorrir imenso com a minha nova arma apontada à cabeça. Isto é brilhante:
Gator Purify: I swear before God... and four more white people! This is the last time!
Spike Lee, Jungle Fever, 1991
Spike Lee, Jungle Fever, 1991
28.4.10
Quiz, ii
O que é que é mais assustador: ver o Nosferatu de Herzog ou ser seguida por um dos espectadores no caminho para casa? Pensa nisso.
Enquanto pensas, suspiro. Que pena eu não ser uma mulher pura, para poder atraí-lo para o meu leito e fazê-lo esquecer-se do cantar do galo, expondo-o à primeira luz do dia e destruindo-o. Lamentavelmente, ao meu alcance estava apenas despistá-lo. É este o destino dos pecadores: viver impotentes face à existência dos monstros.
Puta cena, grande música
TERNURA À DERIVA. O terceiro filme de Fassbinder, Der amerikanische Soldat, acaba com o protagonista a morrer e a ser vítima de violação afectivohistérica por parte do irmão, em slow motion, enquanto ouvimos uma bela cantiga composta por Peer Raben (compositor e amante de Fassbinder) e interpretada por Günther Kaufmann (actor e amante de Fassbinder), na qual se identifica, no refrão, «so much tenderness in my head, so much loneliness in my bed». Parece apenas uma película de gangsters, mas talvez seja dos filmes de Fassbinder mais assombrados pelos fantasmas dos afectos.
Do sempre bom (sempre lindo!) Tio Vânia.
26.4.10
24.4.10
Hipsta sista
Segundo o Aurea Mediocritas, esta hipsta pussy representa-me. Considero-a uma dedicatória absolutamente certeira porque apenas verdadeira, ou não constasse do álbum uma música chamada Lemonworld.
E este é por conta da casa.
Give us a break
© Rita Gomes
My thoughts EXACTLY!
Uau, preparava-me para dizer o mesmíssimo. O design também sofre as suas modas; em tempos foi a tinta a escorrer das palavras e das imagens, agora são os triângulos e as texturas celestes.
23.4.10
Pormenor lamentável: há também um historial dos meus cartazes
O Cineclube de Aveiro já tem facebook. Nele podem aceder a electrodomésticos, maionese e mamas boas. Amizades coloridas por aqui.
22.4.10
Querido Daniel,
Parece que ambos vimos A Single Man e que acabámos em posições diferentes (eu desfrutei mais). Dizem as regras da vida – que circulam por email e que a minha tia imprimiu lá no emprego – que quem desfruta mais fica por cima, embora não fique necessariamente por cima para desfrutar mais. Portanto aqui quem ganha sou eu nesta discussão sem sentido, ou não visse eu profundidade onde tu vês vazio.
Ainda assim, sofro quando te vejo – calma – desancar na comparação «o amor é como um autocarro» (enfim, Daniel, a desancar nos mais fracos…), comparação que julgas má como sopa de rabo de boi (e eu sei lá se gostas ou não de sopa de rabo de boi), apenas porque gostarias que ele tivesse dito «o amor é como uma rulote». Mas quanto a isso tenho a dizer-te o seguinte: o amor pode ser muitas coisas melhores que um autocarro e muitas coisas bem piores que um autocarro, mas por vezes – e se estivermos com a habitual pouca sorte – o amor pode ser como um autocarro; a viagem faz-se aos solavancos e, que desgraça!, não raras vezes, tem gente a mais.
Ainda assim, sofro quando te vejo – calma – desancar na comparação «o amor é como um autocarro» (enfim, Daniel, a desancar nos mais fracos…), comparação que julgas má como sopa de rabo de boi (e eu sei lá se gostas ou não de sopa de rabo de boi), apenas porque gostarias que ele tivesse dito «o amor é como uma rulote». Mas quanto a isso tenho a dizer-te o seguinte: o amor pode ser muitas coisas melhores que um autocarro e muitas coisas bem piores que um autocarro, mas por vezes – e se estivermos com a habitual pouca sorte – o amor pode ser como um autocarro; a viagem faz-se aos solavancos e, que desgraça!, não raras vezes, tem gente a mais.
…mas olha… podia ser pior:
Dicionário de bloggers #1
Yesterday Man: pessoa que escreve posts (enquanto entradas de texto cronóligas em websites/blogs, cf. Blogger, Wordpress, Sapo e um vasto etc onde não têm lugar nem it, nem scriptum, nem punk, nem Björk, nem Power On Self Test; mas que fazer? ah, sim, a desconstrução, murmurei, impávido) ininteligíveis
21.4.10
Depois de interromper a leitura para salvar um mini-mini-mini-insecto, interrompo novamente para vos dar conta do seguinte:
E foi assim, com o cu ainda cheio de esperma, que me resolvi a ingressar no Sicherheitsdienst.
Jonathan Littell, As Benevolentes, tradução de Miguel Serras Pereira, Dom Quixote
20.4.10
As a matter of opinion I think he's tops
Só meninas desta estirpe poderiam transformar uma musiquinha da Mary Wells (não gosto, não peço desculpa) numa música tão linda (suspiros).
Nothing you can say can tear me away from my guy.
Nothing you can do cause i'm stuck like glue to my guy.
(...)
As a matter of opinion I think he's tops.
My opinion is he's the cream of the crop.
As a matter of taste to be exact,
he's my dear as a matter of fact.
Cabelo comprido é do rock
Não é por as Warpaint terem sido a (minha) revelação de 2009, não é por terem feito o (meu) segundo melhor álbum do ano, que é na verdade um EP, não é por terem cinco músicas perfeitas, não é por serem difíceis de catalogar, não é por serem 4 meninas e eu adorar bandas de meninas, não é por terem sido fundadas também pela Shannyn Sossamon, que saiu por falta de tempo, não é por terem nascido ao reunir-se para tocar num dia de S. Valentim e pelo que isso nos diz das suas solidões todas juntas, não é por nada disto que vos mostro este vídeo; é porque – estão a ver a baixista lá atrás? – a partir do 4’00’’ sou eu ali, ó, igualzinha.
19.4.10
Já não sofre meu pobre coraçãozinho
Eu bem disse que não acreditava que João Faria fosse o autor do cartaz da peça O Deus da Matança. O medo de que este objecto estranho significasse o adeus ao habitual grafismo de excelência do TNSJ/TeCA revela-se afinal infundado: pelo que me disseram, o cartaz é como que importado de Lisboa, da sua exibição prévia. Estamos todos muito aliviados e contentes.
Calção de banho correndo pela praia
Enquanto pensava que Nicholas Hoult, o actor que desempenhou o papel de Kenny em A Single Man, me fazia lembrar de uma forma algo escandalosa o vocalista dos Drums, autores daquele vício de Verão de seu nome Let’s Go Surfing, ele não faz mais nada e diz para George (Colin Firth): «let’s go swimming». Pensamento imediato: asbdshjbfhdkjbgkdbnbgbn!
Euronews ou «as notícias correm o mundo»
Os meus amigos, coitados, mal sabem da minha vida, mas os desconhecidos, ó, esses estão espectacularmente bem informados. «Hey, já sabes da última novidade?», «Conta, conta!», «Foi a Limão, pôs a roupa a secar!». Se alguma vez algum de vocês, agentes tão competentes na área do update, souber de alguma coisa da minha vida antes de mim, espero que tenham a amabilidade de informar-me.
17.4.10
I do Feel Better
Tenho saudades de dançar, pecébzzz?
E acho grave que ainda não tenha dançado ao som da putz da música electrónica do ano, que não é a de cima, apesar de bem boa, nem é dos LCD Soundsystem (boooooring), mas sim destes tipinhos aqui abaixo, representados por um vídeo alternativo porque eu sou a única pessoa do mundo não acha piada ao oficial. Mas cuidado que isto é droga! Demorei semanas a desintoxicar:
16.4.10
Boa nuvem para todos
Forçosamente, não há banda nem música mais actuais que estas. É vê-los ali todos à espera do aviãozinho (e se eu digo que é, é porque é).
(já aí anda, fresquíssimo, o novo EP dos Cloud Cult, Running With the Wolves; e se eu digo que anda, é porque anda.)
15.4.10
Serviço ao domicílio
Ai Cristiano, Cristiano, minha telepiça!
12.4.10
Disponível para te ir ao pacote
Se alguma vez lhe disseste o que a vossa relação não era nem viria a ser, espatifando-lhe o coração com o intuito de protegê-lo de um lançamento sem rede, esta música é para ti.
I’ll break your heart
to keep you far from where the danger starts
Dois pesos e duas medidas: uma reflexão sobre a fragilidade da democracia
Bom dia.
Boa tarde.
Isso não é verdade.
Excluindo «vídeos de casadas a foder», «mamilos de meninas», «as vantagens do suicídio» e «como lidar com um homem» (com propriedade, caramba, mas tenho de explicar-vos tudo?), 90% das googlices-maria-alices que aqui desembocam incidem sobre o meu nome.
Agora no que toca à concorrência desleal, é tudo verdade. Só não toca nesse sítio (é mais abaixo, querido): passa-se que Euzinha Limona é a pessoa de bem e de mal que, aqui na selva, mais percebe de mamas. Sim! As pessoas esperam que eu lhes diga quais as mamas que se vão usar este ano, quais as que vão melhor ao domingo, quais as que têm maiores probabilidades de resistir às cheias na Madeira, etc. Já agora, gostaria de deixar claro que aquela mama não é minha. Não seria nada má, visto ser bem boa, mas não, aquela é claramente uma mama de pessoa nos trintas e toda a gente sabe que eu já vou nos quarentas. Arriscaria ainda dizer que se esta mama nunca amamentou (recém-nascidos), já esteve mais longe. Ora como eu ouço muita música com gente a berrar como se tivesse 16 anos e o papá lhe estivesse a chegar a roupa ao pêlo, deixei de ter capacidade para suportar os berros de crianças reais, excluindo-as dos meus planos. A vida é assim dura, tanto bate que ninguém a atura.
Boa tarde.
Isso não é verdade.
Excluindo «vídeos de casadas a foder», «mamilos de meninas», «as vantagens do suicídio» e «como lidar com um homem» (com propriedade, caramba, mas tenho de explicar-vos tudo?), 90% das googlices-maria-alices que aqui desembocam incidem sobre o meu nome.
Agora no que toca à concorrência desleal, é tudo verdade. Só não toca nesse sítio (é mais abaixo, querido): passa-se que Euzinha Limona é a pessoa de bem e de mal que, aqui na selva, mais percebe de mamas. Sim! As pessoas esperam que eu lhes diga quais as mamas que se vão usar este ano, quais as que vão melhor ao domingo, quais as que têm maiores probabilidades de resistir às cheias na Madeira, etc. Já agora, gostaria de deixar claro que aquela mama não é minha. Não seria nada má, visto ser bem boa, mas não, aquela é claramente uma mama de pessoa nos trintas e toda a gente sabe que eu já vou nos quarentas. Arriscaria ainda dizer que se esta mama nunca amamentou (recém-nascidos), já esteve mais longe. Ora como eu ouço muita música com gente a berrar como se tivesse 16 anos e o papá lhe estivesse a chegar a roupa ao pêlo, deixei de ter capacidade para suportar os berros de crianças reais, excluindo-as dos meus planos. A vida é assim dura, tanto bate que ninguém a atura.
10.4.10
The wooooooorld is laaaaaazyyyyyy
São meses de vício: é um prazer de música (whoa whoa whoa whoa whoa). E o que alguém fez com este vídeo foi seleccionar um momento de Les Demoiselles de Rochefort, um filme de 1967, e passar-lhe a música por cima, mas com uma pinta tão grande que parece efectivamente um videoclip criado para o efeito.
I hate sleeping alooooooooooooone, I hate sleeping aloneeeeeeeeeeeeeeeeeeee
la la la
meow
Eu sou muito boa - calma - a ser tonhó. Ui, nisso é que eu sou boa. Ir ao um estádio e não reparar que o jogo começou; ir ao tão desejado concerto da Lisa Germano e chegar atrasada; ir à Loja do Cidadão e deixar passar a minha vez por estar a ler; ir para a cama e não reparar que me estão a pinar... Pronto, esta é capaz de não ser verdade.
Tungas!
My father warned me about men and booze, but he never mentioned a word about women and cocaine.
Tallulah Bankhead, Actress/Epic American Hedonist, via (what else?) Old Hollywood
9.4.10
Queridas Benevolentes,
Se calhar achavam que eu ia comprar um dicionário de alemão e outro de jargão militar para vos perceber melhor... Heil no!
Optimização de conteúdos
Cinco meses de depilação definitiva e um mês e meio de exercício físico diário: os trinta vão ser o meu auge.
Sudoente
Fiquei doente com a notícia da vinda de Beirut ao Sudoeste. Prova disso é o facto de já ter tentado escrever Sudoeste quatro vezes e ter-me saído sempre Sudoente. Beirut figura no meu Top-3-Adorações-Musicais e o Sudoente figura no meu Top-3-Ódios-de-Estimação. Meu Deus, meu babe, leva-me já para o Paraíso! Tenho a certeza que Beirut dá lá concertos a toda a hora e que os putos bêbados ficam de fora.
8.4.10
Oficializando a relação
7.4.10
Morre só mais esta
(...)
I want you now
If this is not hate
(...)
Here on earth
Where the wind and the rain prevail
It bends what you build and it rusts what you nail
(...)
Yeah, i'll return
When the weather is warm
With the gray i've earned
And my heart now fully formed
(...)
I hate you now
If this is not love
(...)
Here on earth
With the wind and rain
They love to erode what you love to sustain
Here on earth these things remain
Crackling water
In the crackling light
Crackling clouds
In the crackling night
I want you now
If this is not hate
I hate you now
If this is not love
(...)
(...)
So many movies
Touching the memories
Leaving you cold
Or making you cry
No one to run to
No one to hold you
No one to take you
Away from the need to go to hell
All of the ugly
Field of vision
Maybe the anger
Is just what you needed
Go to hell fuck you
Go to hell fuck you
go to hell
Mirror mirror
Help me see clear
Say yes
Say maybe
See possibilities
Go to hell fuck you
Go to hell fuck you
go to hell
I love you
I love you too
Cancer Of Everything
«Notas & recados» não há, mas temos postal
Rui Bebiano, no seu blog A Terceira Noite, queixando-se do novo template d'A Natureza do Mal, desenhado por mim (Menina Limão, muito prazer), chegou e disse:
Admito que nos últimos tempos se me tornou um pouco difícil entrar neste blogue imprescindível, tal é o predomínio da envolvente «mancha negra» e a sensação de espreitar para dentro de furnas. Será bonito, mas prejudica, e em muito, a legibilidade.
Eu confesso que os meus olhos se arregalaram contra minha vontade (eu bocejava). O Eduardo também terá arregalado os seus, porque deixou, n'A Natureza do Mal, o comentário mais certeiro possível a esta hilariante observação e que passo a citar:
Blogger com template negro e fundo branco da zona de texto critica falta de legibilidade de blog de outro blogger por ter template negro e fundo branco da zona de texto. Onde está o Correio da Manhã quando mais precisamos dele?
The Road
A Estrada é um livro cuja forma reflecte o conteúdo: sem capítulos e sem pausas, apenas com uns muito esporádicos asteriscos entre parágrafos, e entre cada parágrafo um espaçamento, como que a marcar o nosso fôlego. Na verdade, esse fôlego é também o das personagens, pai e filho, que caminham lado a lado, estrada e floresta fora, num cenário coberto de cinzas do mundo que outrora conhecêramos. Se não aguentarmos o ritmo da caminhada, somos obrigados a parar a leitura em qualquer lado, da mesma forma que pai e filho se vêem obrigados a parar para descansar na berma da estrada, no meio do bosque, no alto de um penedo ou num qualquer barracão.
***
Há muito tempo que não chorava a ler um livro. Sinto-me um limão espremido. Como se o livro se tivesse alimentado de mim, mais do que eu dele. Entranha-se e entristece-nos muito, aos poucos e em crescendo. Não sei o que me apetece ler a seguir, porque agora não me apetece nada. Resta-me então – finalmente! – o filme.
Com a etiqueta de fora na Páscoa
Jesus foi crucificado depois de submeter 10 milhões de habitantes, diariamente, à visão grosseira de uma boca escancarada a mascar chiclete, acompanhada de um ar de peido contínuo. Não? Eu por mim crucificava-o na mesma.
6.4.10
A minha primeira vez
Num estádio de futebol.
Era uma vez o Estádio do Dragão - que é uma Nação - onde a dona segurança, distraída a acariciar-nos as maminhas, não topa as Belgas que levamos na carteira (dois pontos para a Limona!, um pelas Belgas, outro pelas festinhas).
Foi uma experiência muito emocionante e instrutiva. Aprendi - isto é espectacular - que os palavrões de Bruno Alves só se ouvem na televisão, que Hulk é uma pessoa (é verdade) cuja alcunha salvou a sua carreira de uma outra, certamente incrível, a apanhar na bunda (Givanildo? man...) e aprendi ainda que Fernando é uma pessoa com problemas em casa. Já o Marítimo ensinou-me a estar atenta ao jogo - eu que só lá fui para aparecer na televisão - sob pena de olhar para o campo pela primeira vez e estar a entrar um golo na baliza (sim, estive 15 segundos feliz da vida sem perceber que o jogo tinha começado e tonhó é a puta da tua tia, oub'lá). No fim, ganhámos 4-1 (pai, eu continuo do Sporting) e quando debandámos era tudo nosso, incluindo o trânsito (é, olé, a pé é que é, a pé é que é, a pé é que é).
Vitória, vitória, acabou-se a história.
Já não choro a rir
Quando postei o vídeo «Cortes e Decotes» desconhecia que a sua autora era já uma personagem afamada na internet pelos piores dos piores motivos. Agressões aos professores nas salas de aula e o regozijo da sua exibição são comportamentos com os quais não compactuo. Entretanto também me avisaram de que esta miúda já era «uma estrela da TVi». A repugnância que tudo isto me causa sobrepõe-se ao gosto pelo gozo. Apaguei o vídeo. Não me apetece muito contribuir para o espectáculo.
5.4.10
2.4.10
It will be easy
© Alyssa Noches
Micah P. Hinson - Our Sorrow, Left Far Behind
Meet me here
Meet me here
It will be easy
Yeah, it won't be hard to find
my sorrows beneath me
My love gently following behind
behind
behind me
Love me here
Love me dear
It will be easy
The way we will find out
love within us
Our sorrow, left far behind us
behind us
behind us
1.4.10
Sexo, Mentiras e Vídeo
(...) Percebi que era uma mulher normal, alguns anos mais tarde, quando vi o primeiro filme do Steven Soderbergh. Foi uma revelação. Afinal havia mulheres como eu, mulheres que gostavam de sexo e que não esperavam pelos homens para cumprir os seus desejos. Suspirei de alívio. Ainda por cima, as mulheres desse filme, são só duas, eram muito mais bonitas e interessantes do que aquelas com quem me cruzava no bairro e na universidade. Tal facto consolou-me. Apaixonei-me naturalmente pelo James Spader, o impotente. (...) Ana de Amsterdam
Por diversas vezes me ocorreu escrever sobre o impacto que Sex, Lies, And Videotape teve no rebuliço da minha vida interior, visto sem ter idade para tanto e sem que esse factor de distanciamento se cumprisse. É um filme que me acompanha há tantos anos, que é talvez aquele que mais me marcou num tempo prematuro de adolescência, de começos, de dúvidas e de auto-descoberta, pelo grau de identificação e pela consciência de que entrara num domínio adulto que ainda me era vedado. A minha relação íntima e solitária com o cinema e com a música remontam a um tempo precoce - não há nada a fazer, é antigo este meu downgrade. Naturalmente, também eu me apaixonei por James Spader.