E esta quem é? Ora, esta sou eu a entrar em 2010. Já? Já, pois. Uau, que poderosa! Com um passo decidido sobre terreno adverso, levando os trabalhos com determinação. Topas? Agora segue-me. Vamos fazer amigos entre os animais, que amigos destes não são demais. Um bom 2010 para quase todos!
O senhor citado acima, não me conhecendo, conhece-me o suficiente para saber que eu não ficaria indiferente a esta *maravilha*. São os Pearl And The Beard a fazer um medley de Will Smith, transformando vários trechos de músicas suas numa só faixa... indie. Com palminhas e tudo! Não lhes resisto, devo ter sofrido um trauma durante o parto. A verdade é que há três dias que não ouço outra coisa e acordo com desejos de indie Smith. Mas esta música é também deliciosa como ritual de iniciação de 2010. Assim será o novo ano: com baton vermelho nos lábios, as banhas de fora de vestidos cintilantes, o corpo entregue a rodopios, palminhas e lalalas e o sol a-dar-a-dar nas angústias. 2010 já cá canta.
E foi isso que Marisa Tomei fez. Posteriormente elogiada pela sua coragem, do meu ponto de vista – diferente apesar da partilha do mesmo ângulo – o maior grau de exposição é o de Phillip Seymor Hoffman, um tipo feio e bachochas, de quem não se espera que saiba foder convincentemente um mulherão. E se a cena é especialmente bonita pelo abandono de Tomei a uma certa (dis)posição, é a sensualidade incólume à inestética do corpo de Hoffman que a torna verdadeiramente admirável.
Se me não fosse proibido revelar os segredos da minha prisão, far-te-ia tal narrativa que a menor palavra despedaçaria a tua alma, gelaria o teu sangue, faria saltar os teus olhos das suas órbitas como duas estrelas para fora das suas esferas, destruiria a harmonia da tua cabeleira simetricamente anelada e faria erguer em pé cada um dos teus cabelos, como dardos de porco-espinho furioso; mas estas revelações não são para ouvidos mortais.
Shakespeare, Hamlet, tradução de Domingos Ramos, Lello Editores
Como compensação (leia-se maldição) para quem não tem acesso ao meu facebook porque eu não deixo (vaca), aqui fica o resultado de uma aplicação facebookiana que reúne de forma aleatória alguns dos meus «status updates» escritos ao longo do ano. Que é como quem diz «worst of parvoeira limocha 2009».
HAMLET
Não vos parece este blog já suficientemente parvo?
A BOUA DA OFÉLIA
Anjos do Céu, valei-me! cobri-me com as vossas asas e lavai minha alma! Meu bom senhor, humildemente vos imploro clemência.
Menina Limão chegou a casa encharcadita, não sabe se da chuva se da melancolia, que irresponsavelmente deixou que se agravasse ao som do álbum mais transversalmente melancólico do ano.
A família tradicional foi destruída quando as mulheres começaram a desenvolver actividades profissionais fora do lar doce lar. Mais tarde foi abatida pela introdução e generalização dos métodos contraceptivos hodiernos e pela emancipação sexual das mulheres, essas porcas, novamente.(...)
Eu não ia dizer nada porque, como boa porca que sou, defendo e pratico a exclusividade dos lugares sagrados, mas já que têm vindo a arruinar-me o plano, cederei à evidência das declarações públicas: um dos três melhores bloggers da nação-limão (evidentemente, o top 3 começa depois de mim na escala hierárquica) está de volta. Ei-lo: Eduardo B., once Agrafo, now Ágrafo.
Subtraiu-se às formas do mundo, com o rigor de uma bailarina que se anula. Chegou a conseguir ser espaço aniquilando o corpo. Aos 40 kg, um sono por gastar escavou-lhe um ninho de aconchego debaixo dos olhos. Uma camada epidérmica de destroços envelheceu-a ainda jovem. Algures na pele, entre uma prega e outra, as cinzas de um desejo impossível. Disse-me: doutor, o meu corpo tem necessidades que eu não consigo acompanhar. Prescrevi-lhe um inibidor de lucidez.
Os blogueiros generalistas que postam sobre futebol deveriam ser encerrados no balneário com o Freitas Lobo e o Rui Santos durante 48 horas. Passava-lhes. Esta merda de ter um blogue não obriga como nos jornais a ter secção de desporto.
comentário anónimo (bocejo) a um post do Irmão Lúcia. Perdoa-me, Mano, mas teve de ser. Grande parte dos meus bloggers do heart falam de futji (bocejo).
Eis que surge outra séria candidata a música do ano. Uma daquelas, como dizer?, com nervo. E com um vídeo à altura do acontecimento.
(Por dificuldades técnicas, tive de substituir o primeiro vídeo por um outro com publicidade a fotos porno da Rihanna. Estes novos puritanos que me perdoem.)
Irrita-me loucamente, essa tentação de o casal viver como uma entidade. Se há coisa que dificilmente perderei, é a minha identidade enquanto indivíduo. Gostaria que se passasse o mesmo com as pessoas à minha volta.
Não me apetece tentar o original, aprofundar o lamento, enaltecer com engenho. Morreu, ponto final na história. Morreu o Jack Rose, meu Deus. As pessoas morrem, grande novidade, mesmo quando superam o estatuto de pessoas e têm apenas 38 anos. Mesmo quando um ano antes as vimos dar o ar da sua genialidade dedilhando uma guitarra durante uma hora mágica; mesmo quando, por simpatia de outrem, com ele tivemos o privilégio de partilhar o almoço e a conversa, e de perceber que o espaço reservado a um ego desmesurado é antes ocupado por simpatia e generosidade. Um sorriso encantador num corpo imponente, uma pessoa bonita. E, vá, um músico pioneiro e importantíssimo que fez história. O que é que isto interessa? Oh, tão pouco, pois é, a vida continua, olha que bom. Arrumo o choque nalgum canto da casa e não se fala mais nisso. Ser triste é tão século passado.