[do insubstituível]
30.5.09
Baile de Outono
Não olhes para o que eles dizem, olha para o que eles fazem
No final de Baile de Outono, Jaana regressa a casa de Mati, de onde houvera partido, depois de um longo (longo de longa-metragem) período de silêncio. Diz-lhe que o ama, ainda. Mati não acredita, e nós compreendemo-lo bem. Diante dos dois, estende-se o lixo acumulado dos dias, como despojos de uma festa decadente, tanto quanto são decadentes os contornos de uma vida solitária e naufragada. Mati pede a Jaana que parta. Mas ela levanta-se e, em silêncio, começa a arrumar o caos das garrafas vazias. E ele, sem uma palavra, acompanha-a.
28.5.09
Por falar em lágrimas (numa quinta-feira)
Até hoje, apenas dois filmes mudos me levaram às lágrimas: Aurora, do Murnau, e Opinião Pública, do Chaplin. O primeiro poderá ser visto amanhã no Teatro do Campo Alegre e o segundo, lamento, vi-o hoje.
26.5.09
O Homem sem Passado
25.5.09
Medicine For Melancholy
O final é inconclusivo. Não sabemos como a história termina e os indícios não chegam para lhe adivinharmos a última linha. Porque nesta narrativa de duas pessoas que dançam pela primeira vez, sem ensaios prévios, e cujos corpos se desconhecem, a coreografia é improvisada e escrita alternadamente – um passo decide-o ele (para a frente), o seguinte decide-o ela (para trás) - com a insegurança de quem pressente a queda. Mas decisão é uma palavra errada, para um filme sobre desejos indecisos, sobre a confusão silenciosa de quem sabe o que quer (a ele, a ela) apenas para os quinze minutos seguintes*. Uma conclusão é tudo o que não é possível e é também tudo o que (ali) não interessa.
[Medicine For Melancholy é a primeira longa-metragem de Barry Jenkins, vista na extensão do IndieLisboa no Porto, pela qual me perdi de amores. Vi ainda o fascinante documentário Encounters At The End Of The World, do Werner Herzog e, sim, é oficial, reconciliei-me com as idas ao cinema.]
*excerto de um post do Pedro Jordão, sobre o mesmo filme.
esclarecimento
A propósito deste post, em que comparo duas capas de livros curiosamente idênticas – The Mayor’s Tongue, de Nathaniel Rich, e Liberal à Moda Antiga, de Francisco José Viegas – venho agora fazer um esclarecimento, a pedido da RPVP Designers, que, apesar de não ter sido visada pelo meu post, foi mencionada por terceiros na respectiva caixa de comentários. Citando Vítor Paulino, sócio-gerente e director criativo da RPVP designers, no e-mail que me enviou:
A RPVP Designers foi convidada a desenhar o projecto Gráfico da Quetzal Editores e posteriormente algumas das suas capas.
Desenhamos capas para outras editoras, nenhuma delas a Bertrand. A confusão deve-se ao facto da Quetzal ser uma editora que pertence ao Direct Group - Bertelsmann, empresa esta que também é detentora da Bertrand Editora. A alimentar mais a confusão o Autor da Obra: Francisco José Viegas é Director Editorial da Quetzal Editores.
Ou seja, a RPVP designers nada tem a ver com o desenho gráfico da capa em questão.
A RPVP Designers foi convidada a desenhar o projecto Gráfico da Quetzal Editores e posteriormente algumas das suas capas.
Desenhamos capas para outras editoras, nenhuma delas a Bertrand. A confusão deve-se ao facto da Quetzal ser uma editora que pertence ao Direct Group - Bertelsmann, empresa esta que também é detentora da Bertrand Editora. A alimentar mais a confusão o Autor da Obra: Francisco José Viegas é Director Editorial da Quetzal Editores.
Ou seja, a RPVP designers nada tem a ver com o desenho gráfico da capa em questão.
Aos interessados, a verdadeira autoria (ah, quanta ironia) da capa do livro Liberal à Moda Antiga é referida na mesma caixa de comentários, já no final.
21.5.09
medo
© Pedro Jordão
Oh não, estamos de volta! E somos sexy! Ú.
Esta Sexta, 22 de Maio, a dupla-maravilha Menina Limão & Pedro Jordão dá-vos indiebaile no Clandestino bar, em Aveiro, a partir das 22h30. E vocês gostam. Mas antes disso aparecem.
19.5.09
estou farta do negrume deste blogue
1. Quem vota em cor-de-rosa-inicial?
2. Quem vota em branco?
3. Quem vota em preto-está-mas-é-quietinha?
Treinar a nudez*
© Marcio Simnch
Ele disse que quem dança não pode ser totalmente infeliz. Eu assenti mas acrescentei que eu sou daquelas que acreditam que na dança também pode haver desespero. Porque Quem dança procura entender o que há para entender, por isso dança porque procura entender o que há para entender. E porque dançar é Ter no Corpo o sistema do desespero e ter no corpo o sistema da salvação, ter no corpo um único sistema que desespera e salva.*
*excertos de O Livro da Dança, de Gonçalo M. Tavares
18.5.09
pílulas em festa
© Dan Witz
Toda a gente sabe que o mosh é para diminuídos. Para meninos, pronto. O que está a dar agora é abrir alas no meio da multidão...e epilepsar individualismos. Digamos que assim nasceu o novo mosh. Garanto-vos que é das melhores chanfradices que irão ver esta semana e aconselho-vos a revê-la várias vezes até terem topado todas as personagenzinhas envolvidas no passanço da cornada. O man da música é o Dan Deacon, que virá fazer estragos à nossa pouca-terra em Serralves em Festa, no final de Maio. Temos pouco mais de uma semana para conseguir fritar o cérebro àquele ponto. Eu já atingi o estado zbiriguidófilo há uns anitos.
todo um épico
© mr.esgar, o grande
Uma imagem vale mais do que mil palavras, etc etc, ou seja, muitos dos meus textos estão aqui condensados.
17.5.09
Menina Limão 4ever
Na mesma semana, três vezes o mesmo equívoco. Tudo por exclusiva culpa minha, é certo. Mas com as minhas irresponsabilidades posso eu bem, ainda que tenha de colocar o dedo em riste: este blogue chama-se desde sempre e chamar-se-á para sempre Menina Limão. Como é um tipo com muitas manhas, presta-se muito a caras lavadas. O header vai mudando conforme as marés, mas, independentemente do que nele (não) está escrito, já ninguém (nem mesmo eu, querendo) lhe apaga a identidade, como não se apaga, tão facilmente assim, uma tatuagem.
(pede-se encarecidamente que seja restituída a ordem com a correcção dos links)
15.5.09
dreaming only makes me blue
Sonhei que engravidava do Zé e não do Pedro, que era o meu namorado, sem que nenhum deles soubesse da troca; que tinha o filho; que o deixava morrer sem querer; que sentia alívio; que ele ressuscitava; que eu ficava simultaneamente contente e desesperada e que, chegada a casa, definhava em descontrolo. Eu com vinte e poucos anos e tantos sonhos, um filho ilícito, um amor destruído e um segredo fodido. Nunca se ouviu um único som vindo do bebé.
***
Nesse dia, a crónica do Pedro Mexia, no Público, sobre o infortúnio de uma actriz que teve um bebé de um tipo de quem se tinha separado pouco tempo depois de se saber grávida e que entretanto casara com outra, foi de um timing devastador. Dela retive uma ideia que me persegue: a de que pode haver uma traição apesar dos factos que a desmentem. «Tecnicamente, Bridget não foi trocada (que conceito) por Gisele. Mas a verdade é que quando o impetuoso quarterback Brady catrapiscava modelos voluptuosas, a ex-modelo Bridget, já com 36 anos, tinha um filho sozinha e entrava em depressão.» Mas o verdadeiramente espantoso acontece a este instante: «(…) conta que quando regressou da maternidade não evitou um ataque de choro: “Toda a gente diz: ‘Dás à luz, vais para casa, e tens um bebé espantoso e é tudo espantoso.’ Mas eu cheguei a casa e comecei aos soluços.”». Muito irónico.
***
As coincidências não terminaram ali. Pelo caminho, até chegar ao café onde li a crónica, fui ouvindo música. Mal ligo o iPod em The Magnetic Fields, eis que se solta a língua de Stephin Merritt desta forma: "i gotta get too drunk to dream, 'cause dreaming only makes me blue". (…)
***
Será difícil voltar a ficar tão passadinha como nesse dia.
(Mas nem isto é verdade.)
(Mas nem isto é verdade.)
13.5.09
da civilidade das meninas
Era um jovem perfeito. Eu sentia-me nervosa, e disse-lho. Trocámos algumas impressões sobre o assunto e o meu coração rejubilou. A verdade é que sou uma exaltada e sinto-me agora um pouco cansada. Mas o meu coração nunca terá descanso. Serei sempre uma sentimental.
(este texto é tão lindinho, ó conhecedores da civilidade)
12.5.09
bonito bonito
Não sei quem é pior: se aquele que escreve poesia obscena, se aquele que a promove. Mas lá que é bonito é!
quiz
© Diane Arbus
Na minha primeira aula de fotografia, em Erasmus, o professor exibiu esta fotografia da Diane Arbus e informou-nos (exacto, informou-nos) de que uma das gémeas era burra e a outra inteligente, querendo saber de seguida quem era quem. Se bem me lembro, a maioria nomeou inteligente a da direita, porque sorria; e nunca ninguém admitiu que era também por ser a mais bonita. Não me recordo dos argumentos em defesa da menina que a maioria nomeou burra – talvez estivessem irritados por perceberem o preconceito na valorização da beleza, ou talvez estivessem dominados por um sentimento de justiça e de recusa dos nossos instintos mais básicos. Existe uma expressão exactamente antagónica nos seus olhos e nas suas bocas. Sorrir para uma fotografia é um sinal de inteligência? Mostrar desconforto não o será também? Se ambas tiverem atitudes diferentes pelo mesmo motivo de uma aguda consciência de si próprias, o que é que as separa? Curioso foi que ninguém tentasse questionar a sentença do professor. Porque é que uma haveria de ser burra e a outra inteligente? Só ocorre tal pergunta a quem é capaz de lhe dar resposta. Eu devo dizer que até hoje não cheguei a uma conclusão.
a Limocha
Tenho a mania de apelidar as pessoas com variantes dos seus nomes. É o Jóni Gáspêr, o Zé Tolas, o Mano Lúcia, o Pita Jordana, a Mariazinha (para muitas não-Marias), o Danny Boy, a Alicina, a Poia, o Bandidolas, o Tiagone, a Saturna, a Polva, a Juju, a Chica, a Ananona, o Micas, a Bimba. É claro que me ocorre que talvez a pessoa não ache piada, mas não, não pretendo corrigir-me.
11.5.09
Il pleut, je pleur
A estadia em Lisboa é sempre terapêutica (e esta cumpriu-se exemplarmente), mas é incrível como a chuva num segundo altera absolutamente tudo: funciona como uma injecção de melancolia administrada ao primeiro pingo e de efeito imediato.
Il pleut, il pleut
Je pleur, je pleur
[Sad Robot, Stars]
Il pleut, il pleut
Je pleur, je pleur
[Sad Robot, Stars]
chuac-chuac
Dou sempre dois beijinhos. Eventualmente, deixam-me pendurada. Eventualmente, também, vêm socorrer-me para que não caia. Mas o problema é já irreversível: uma diferença de manifesto. Dizem-me que é uma questão de aprendizagem. Uma aprendizagem cínica, claro.
proud to present
É com orgulho que apresento - o importante é reprimir o ímpeto do me, que insiste em instalar-se, patologicamente, entre as últimas duas palavras.
note to self
Entre os principais verbos da segunda conjugação, é inútil que citeis foder (eu fodo, eu fodia, eu foderei, que eu fodesse, fodendo, fodido). A conjugação é interessante, mas sereis mais repreendida por a conhecerdes, que por a ignorardes.
Manual de Civilidade para Meninas, de Pierre Louÿs
Manual de Civilidade para Meninas, de Pierre Louÿs
7.5.09
A Festa
fax interno & poesia profunda
São tantos os emails por abrir e outros tantos os já lidos por responder, que até me falta a coragem para espreitar a inbox. Por isso, vou fugir, vou para Lisboa, que assim quando voltar será muito pior. Hooray!
A debandada dar-se-á inclusive sem responder aos vossos comentários e mensagens de parabéns e o diabo a quatro. A verdade é que ainda não assentei: tive um dia de aniversário perfeito e pretendo continuar a tê-lo. Entre filmes imperdíveis na Cinemateca que perderei, apresentações de livros a que não irei, encontros que (como sempre) falharei e uma promessa de rebolar na relva que não cumprirei, hei-de enxotar com parcimónia os macaquinhos da cachimónia.
Entretanto, compenso-vos com a minha mais recente criação, um portento de poesia:
© Menina Limão
[Tentei descobrir a origem da primeira frase, que, como sabem, e se não sabem deviam saber, não é da minha autoria. Isto de contactar totais desconhecidos a propósito de tão nobre causa tem muito que se lhe diga. Menina Limão e a problemática dos colhõezinhos: bonito, bonito. Há quem defenda que é "roçar" e não "bater" e eu a isso respondo: bonito bonito. Há também quem depois disto nunca mais queira cá entrar e eu a isso respondo: oh, deixa-te de conversa de tartaruga.]
A debandada dar-se-á inclusive sem responder aos vossos comentários e mensagens de parabéns e o diabo a quatro. A verdade é que ainda não assentei: tive um dia de aniversário perfeito e pretendo continuar a tê-lo. Entre filmes imperdíveis na Cinemateca que perderei, apresentações de livros a que não irei, encontros que (como sempre) falharei e uma promessa de rebolar na relva que não cumprirei, hei-de enxotar com parcimónia os macaquinhos da cachimónia.
Entretanto, compenso-vos com a minha mais recente criação, um portento de poesia:
© Menina Limão
[Tentei descobrir a origem da primeira frase, que, como sabem, e se não sabem deviam saber, não é da minha autoria. Isto de contactar totais desconhecidos a propósito de tão nobre causa tem muito que se lhe diga. Menina Limão e a problemática dos colhõezinhos: bonito, bonito. Há quem defenda que é "roçar" e não "bater" e eu a isso respondo: bonito bonito. Há também quem depois disto nunca mais queira cá entrar e eu a isso respondo: oh, deixa-te de conversa de tartaruga.]
oh i get it
Tantos anos para perceber que grande parte da angústia típica de um dia de aniversário se evita não fazendo festa de aniversário.
5.5.09
se eu fosse um vídeo # 7 [no meu dia de anos]
Há muito de mim nesta menina.
E o que aqui carece de festa, é compensado por poesia.
[atenção aos momentos 1'28'' e 1'34'']
I’m very good with plants
When my friends are away
they let me keep the soil moist
On the seventh day I rest
for a minute or two
then back on my feet and cry for you
[When I Grow Up, Fever Ray]
3.5.09
É domingo e sinto-me terrivelmente sã e bem-disposta. Estarei doente?
Hoje vesti uma camisola largueirona, que me dá a sensação de vestir a camisola de um amante, e saí para a rua, sob um calor tórrido, capaz de me induzir imediatamente a uma enxaqueca. Como estou quase a fazer anos, fui passear o camisolão para as livrarias em busca de títulos apetecíveis, com os quais pudesse formar uma lista de potenciais prendas de aniversário. Adoro o oportunismo da data, é a sua única vantagem. Como me tenho imposto uma dura tirania contraleitura e contralivros (são claramente distintas, porque uma tirania contralivros afasta-me das livrarias, para além de me arredar dos livros que tenho em casa), o meu bloco de notas cedo desatou a fervilhar com nomes. Vamos lá ver se espicaço a minha apatia ao menear da anca em redor de estantes, pensei. Os resultados estão (estiveram) à vista: logo após a conclusão da lista, fui tomar um café e comer uma nata, e ler os livros que trazia comigo desde casa. Entretanto, já lhes juntara mais dois, comprados numa tenda onde julgo ter perdido cinco neurónios, evaporados sob o efeito estufa. Enviei um sms ao meu consultor literário sensivelmente a dizer: “há aqui este, este e este, mas como sou pobre, tenho de escolher”, ao que ele respondeu: “Três Tristes Tigres: masterpiece. Por 5 euros é dado” e eu, que mais do que pobre sou desgovernada, comprei também o Frankie e o Casamento, da Carson McCullers (eram só mais 3€, caramba). Já na fnac, percebi num instantinho que com uma lista tão extensa de livros a comprar com carácter de urgência, bem podia esquecer os cd’s e os dvd’s. Passando pela secção de música, fiquei com a nítida sensação de que mais valia encomendar pela Amazon, o que me trouxe algum alívio e alento, permitindo-me despachar aquela área depressinha. Depois, voltando a face ao cinema, esbarrei com o Zelig, do Woody Allen, e lembrando-me de uma conversa que me aliciara a vê-lo, lá o incluí na lista. Procurei a obra do João César Monteiro, o que me valeu um treco ao vislumbre dos preços e o Godard sorriu-me várias vezes, flirt para o qual a minha coluna algo dorida respondeu com pouca envergadura. Deixei-o estar.
Poupei-vos à lista de livros desejados, não me coibindo, no entanto, de vos lançar alguns nomes como pós de perlimpimpim. Não sei se perceberam, talvez deva repetir, estou quase a fazer anos.
(não me diga!)
Poupei-vos à lista de livros desejados, não me coibindo, no entanto, de vos lançar alguns nomes como pós de perlimpimpim. Não sei se perceberam, talvez deva repetir, estou quase a fazer anos.
(não me diga!)